Histórico do curso de Cinema e Audiovisual
Os
meios de comunicação sempre tiveram papel relevante na história de Mato Grosso,
apesar do isolamento geográfico do estado, distante dos grandes centros urbanos
mais desenvolvidos do país. Ainda no século XIX, Cuiabá, a capital do Estado,
possuía jornais com boa penetração junto à população e forte influência na
política estadual.
Esse isolamento geográfico persistiu no século XIX. Mesmo assim, alguns títulos de jornais resistiam e, a partir de um determinado momento, começam a surgir também as primeiras revistas. Em 1904, surge O Mato Grosso, revista mensal com conteúdo de ciências, letras, artes e variedades. Com cerca de 300 páginas, oferecia aos leitores literatura, poesia, política, geografia e boletins meteorológicos.
Também em 1904, nasce a Arquivo, revista destinada a publicar documentos geográficos e históricos do estado. Em 1907 foi a vez da Revista da Sociedade Mato-grossense de Agricultura, publicação especializada na temática agrícola, com 40 páginas.
Em 1916, registra-se o pioneirismo de A Violeta, primeira revista feminina do estado e, sem dúvida, uma das primeiras a circular no país. Quebrou tabus ao abordar temas de cunho “feministas” ou femininos num período em que o conservadorismo predominava.
Nas décadas de 1940 e 1950 foi a vez do rádio desempenhar importante papel na comunicação no estado. Programas jornalísticos, radionovelas e publicidade de varejo formavam o conteúdo, revelando importantes profissionais.
Em 1939 surgiu O Estado de Mato Grosso, que por muito tempo foi o principal diário da capital mato-grossense e que deixou de circular na década de 1990.
Na década de 1960 passa a circular o Diário de Cuiabá e na década de 1990 surgiu A Gazeta, que provocou impacto no mercado regional por ser o primeiro impresso informatizado de Mato Grosso. Na década seguinte, de 2000, passou a circular a Folha do Estado, impresso diário que deixou de circular temporariamente para, segundo sua direção, passar por uma reforma gráfica e de conteúdo.
Porém, o salto do setor de comunicação de Mato Grosso começou anteriormente, após a divisão da unidade federativa, com a criação do Estado do Mato Grosso do Sul, em 1977.
Logo após a divisão territorial, o estado possuía apenas 38 municípios e sete jornais que circulavam periodicamente, 6 rádios AM e FM e 2 emissoras de televisão. O desmembramento do estado, porém, acabou favorecendo o Estado de Mato Grosso remanescente, que apresentava até então índices de desenvolvimento econômico e social bem aquém da região que deu origem ao Mato Grosso do Sul.
Quanto às emissoras de televisão, a TV Centro América foi a pioneira no estado. A empresa de propriedade de Ueze Elias Zahran foi implantada no bairro Santa Helena, em 1969, começando a operar em 1970, como retransmissora da Rede Tupi de Televisão. Na segunda metade da mesma década Cuiabá teve a segunda emissora instalada na cidade, a TV Brasil Oeste, vinculada à família do ex-governador e ex-senador Julio Campos, retransmissora da TV Bandeirantes.
A proposta de criação do curso de Comunicação Social da UFMT foi formulada pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Mato Grosso, durante a realização da II Semana de Propaganda de Mato Grosso, em 1983. Percorreu-se um longo caminho, desde a formação de um grupo de trabalho para analisar a viabilidade da iniciativa, até a efetiva criação do curso, em 5.12.1990, por meio da Resolução nº 141/90 do Conselho Diretor da Fundação Universidade de Mato Grosso, com o objetivo de atender a uma demanda significativa de formação em nível superior nas áreas de Jornalismo, Radialismo e Publicidade e Propaganda, visando suprir um mercado de trabalho em crescente expansão.
O primeiro concurso vestibular foi realizado de 17 a 20 de março de 1991, com 45 (quarenta e cinco) vagas ofertadas para serem preenchidas semestralmente, de acordo com a Portaria do Gabinete da Reitoria nº 29/91 e Resolução n° 001/91, do Conselho de Ensino e Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso.
O Curso de Comunicação Social foi reconhecido pela Portaria nº 911, de 20 de agosto de 1998, do Ministério da Educação e do Desporto, baseado no Parecer nº 379/98 da Câmara de Educação Superior do Conselho.
Atualmente, Cuiabá conta com as principais retransmissoras de televisão do país e emissoras locais de rádio e televisão pelas quais os profissionais aqui formados têm transitado ao longo desses 30 anos de existência do curso de Comunicação Social da UFMT. Nesse mesmo período dezenas de produtoras de audiovisual destinadas as diversas formas de produção surgiram como consequência da formação desses profissionais.
O momento é de transformação, não só de mudar por mudar, mas de estar, portanto, de pronto sensível e em atenção às contingências do contemporâneo. Ao que as mudanças no mundo representam de adequação da academia para apreendê-las e avançar na reflexão, discussão, análise e construção de conhecimento no ensino, pesquisa e extensão. A pesquisa, em especial, para avançar na experimentação de novas linguagens e novas tecnologias e, na extensão, para promover o diálogo com grupos sociais e instituições que atuam na produção e circulação de comunicação audiovisual.
A criação do curso de graduação em Cinema e Audiovisual em 2018, dentro do departamento de Comunicação Social, em conformidade com a legislação em vigor, com as devidas adequações da carga horária; distribuição dos conteúdos ao longo dos oito semestres letivos, estímulo à participação dos discentes em atividades complementares, e o aprofundamento da potência do curso em relação à sua natureza de interface, não só com os demais cursos da comunicação, mas também com todas as outras disciplinas que se dispõem a refletir e a incorporar as narrativas audiovisuais em seus procedimentos de construção do conhecimento.
Justificativas para a criação do curso de graduação Bacharelado em Cinema e Audiovisual
A justificativa para a criação do Curso de Graduação em Cinema e Audiovisual - Bacharelado é plural. Quais são as premências, qual é o contexto sociocultural em seus diversos pontos em conexão que torna relevante a criação deste curso no momento atual? A justificativa que se segue pretende dar conta de relatar e argumentar sobre a importância da criação do curso.
Vivemos a era da visibilidade, da emergência das imagens. As práticas comunicativas audiovisuais ganham a cada dia mais espaço de inserção, na dinâmica das imagens para além das representações, na conformação dos diversos modos de relacionamento e convivência social.
Se imagem, em sua produção, consumo e construção de sentido, tornou-se chave nas interações sociais, é preciso que a academia ofereça à sociedade uma formação que dê conta de compreender e articular narrativas imagéticas que permitam que indivíduos e coletivos de Mato Grosso, sejam protagonistas desse “lugar” de embates e empreendedores desse “tecido” conjuntivo em rede da sociedade.
O curso de graduação em Cinema e Audiovisual nasce com essa vocação, de estar atento aos movimentos do contemporâneo, da capacidade de trabalho interdisciplinar e, principalmente, de capacitar os discentes para acompanhar a dinâmica das novas linguagens, dos novos instrumentais tecnológicos na área comunicacional e da característica central da sociedade brasileira que vive em Mato Grosso: a diversidade. Diversidade de cenários, de temporalidades, de modos de vida, a diversidade de origens de brasileiros e grupos de estrangeiros. O curso de graduação em Cinema e Audiovisual tem esse compromisso de captar, narrar, debater e refletir sobre todas as diferenças sociais, econômicas e culturais que se entrecruzam em Mato Grosso.
Essa pluralidade inclui mais de 50 etnias indígenas; a presença de migrantes de todas as regiões do país; cidades que nascem e enriquecem pelo agronegócio; regiões onde o garimpo de ouro começa a ser retomado e o potencial humano do Estado em sintonia com o século XXI: grupos de jovens que atuam na música, nas artes plásticas, no teatro e, ainda incipientemente, no cinema. O curso de graduação em Cinema e Audiovisual deve estar atento às conexões de conhecimento e produção que se abre com essa riqueza do diverso.
Neste aspecto da produção de imagens em movimento, os últimos cinco anos foram decisivos para o amadurecimento da proposta de criação do curso de graduação em Cinema e Audiovisual da UFMT pela movimentação do mercado em Cuiabá e região com a produção de documentários, curtas e longas metragens. Essa produção está intimamente ligada a incentivos das esferas federal, estadual e municipal. Em 2015, os investimentos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) destinaram ao Centro Oeste 12 milhões de reais para projetos de documentários, curtas e longas de ficção para veiculação em TV Pública, o chamado Prodav 5, que garante a distribuição dos produtos para 218 canais de televisão e a possibilidade de comercialização internacional. A Prefeitura de Cuiabá, também em parceria com o FSA, destinou um milhão de reais para projetos de telefilmes, documentários e um filme de animação, por meio do edital Procine 2015-2016. E o governo de Mato Grosso, também em parceria com o FSA, está destinando quatro milhões e meio de reais para a produção de longas metragens e documentários em 2016. Esses investimentos revelam o potencial do setor de audiovisual, cuja ampla cadeia gera milhares de empregos diretos e indiretos.
O Projeto Pedagógico, portanto, reafirma o comprometimento do curso de graduação em Cinema e Audiovisual, do Departamento de Comunicação Social, da Universidade Federal de Mato Grosso em tornar disponível à sociedade um ensino de qualidade, em consonância com a dinâmica atual dos processos comunicacionais a fim de formar profissionais habilitados a desempenhar sua função com competência, ética e compromisso social.