A leishmaniose visceral (LV) é causada pelo protozoário Leishmania infantum. Os cães são considerados o principal reservatório da LV no ambiente urbano. A LV encontra-se em expansão e estudos de distribuição temporal e espacial são importantes para identificar fatores associados a taxa de infecção da doença. Diante disto, esta pesquisa objetivou descrever a distribuição e o perfil epidemiológico da LV canina e humana na cidade de Cuiabá, Mato Grosso, durante o período de 2018 a 2023. Estudo retrospectivo descritivo foi realizado utilizando o banco de dados do Laboratório de Leishmanioses do HOVET-UFMT, em Cuiabá, Mato Grosso. Para análise, foram utilizados os dados referentes aos métodos de diagnósticos, como o teste sorológico rápido SNAP IDEXX, e parasitológico, pela citologia de medula óssea e/ ou linfonodo, além dos aspectos clínico-epidemiológicos e referentes ao ambiente de moradia dos cães. Adicionalmente, os casos humanos de LV confirmados no município de Cuiabá foram recuperados no sistema de informação de agravos de notificação (SINAN). No período, amostras biológicas de 1400 cães foram enviadas ao Laboratório de Leishmanioses. Desses, 552 (39,4%) cães foram positivos. As variáveis epidemiológicas vinculadas aos cães e associadas ao maior fator risco de infecção foram: cães machos, sem raça definida, com permanência restrita ao peridomicílio e residente em ambiente rural. As taxas de infecção canina mantiveram-se moderada e constante entre os anos de 2018 e 2023 na cidade de Cuiabá. Os casos caninos e humanos encontram-se distribuídos por todo o município, porém, as regionais Norte e Sul detiveram maior números de casos humanos e maior risco de infecção canina em relação à regional Oeste. Ademais, o encontro de cães infectados advindos de outras cidades reforça a importância dos cães como dispersores do parasito e a necessidade de diagnóstico correto dos cães para prover medidas de controle mais eficazes no controle da disseminação da LV.
Palvra-chave: Leishmania infantum.
Avaliação clínico-patológica cutânea de cães com leishmaniose visceral tratados com miltefosina e alopurinol
A leishmaniose visceral é uma zoonose com milhares de novos casos anualmente em todo o mundo. Em alguns países, dentre eles o Brasil, se configura como um sério agravo à saúde pública. O cão, o principal reservatório, mantém a endemicidade da LV no meio urbano devido à sua proximidade com o homem e à alta carga parasitária cutânea. A pele tem uma importante
participação na imunopatogenia da doença, pois é o primeiro órgão infectado pelo parasito, além disso, pelo aspecto dermotrópico da L. infantum há elevada carga parasitária facilitando a infectividade ao vetor. Diante do exposto, este estudo teve por objetivo avaliar os achados clínicos, histopatológicos e a carga parasitária da pele dos cães com leishmaniose visceral tratados com miltefosina associado ao alopurinol. Dezessete cães foram avaliados antes e após 150 dias do início do tratamento, submetidos a coletas de amostras de pele, sangue e urina para estabelecer o escore clínico e descrever os achados clínicos dermatológicos e aspectos histopatológicos, além de quantificar a carga parasitária da pele por qPCR. Após o tratamento se observou redução do escore clínico e das anormalidades laboratoriais, com remissão de alguns sinais clínicos e normalidade dos valores médios de hemoglobina, hematócrito e a relação albumina/globulina. As principais alterações cutâneas inicialmente observadas foram alopecia/hipotricose, dermatite ulcerativa, dermatite esfoliativa e hiperqueratose nasodigital. Após o tratamento houve redução das lesões macroscópicas e diminuição da inflamação, com predomínio de macrófagos no infiltrado inflamatório, além disso, houve redução significativa da carga parasitária em todos os cães. A miltefosina em associação com alopurinol promoveu a melhora clínica, a diminuição do escore clínico, a redução na carga parasitária e melhora da inflamação cutânea de cães em 150 dias de tratamento.
Distribuição espaço-temporal dos casos de leishmaniose visceral canina atendidos em Hospital Veterinário de Cuiabá, Mato Grosso, no período de 2018 a 2023 e sobreposição aos casos humanos.
A leishmaniose visceral (LV) é causada pelo protozoário Leishmania infantum. Os cães são considerados o principal reservatório da LV no ambiente urbano. A LV encontra-se em expansão e estudos de distribuição temporal e espacial são importantes para identificar fatores associados a taxa de infecção da doença. Diante disto, esta pesquisa objetivou descrever a distribuição e o perfil epidemiológico da LV canina e humana na cidade de Cuiabá, Mato Grosso, durante o período de 2018 a 2023. Estudo retrospectivo descritivo foi realizado utilizando o banco de dados do Laboratório de Leishmanioses do HOVET-UFMT, em Cuiabá, Mato Grosso. Para análise, foram utilizados os dados referentes aos métodos de diagnósticos, como o teste sorológico rápido SNAP IDEXX, e parasitológico, pela citologia de medula óssea e/ ou linfonodo, além dos aspectos clínico-epidemiológicos e referentes ao ambiente de moradia dos cães. Adicionalmente, os casos humanos de LV confirmados no município de Cuiabá foram recuperados no sistema de informação de agravos de notificação (SINAN). No período, amostras biológicas de 1400 cães foram enviadas ao Laboratório de Leishmanioses. Desses, 552 (39,4%) cães foram positivos. As variáveis epidemiológicas vinculadas aos cães e associadas ao maior fator risco de infecção foram: cães machos, sem raça definida, com permanência restrita ao peridomicílio e residente em ambiente rural. As taxas de infecção canina mantiveram-se moderada e constante entre os anos de 2018 e 2023 na cidade de Cuiabá. Os casos caninos e humanos encontram-se distribuídos por todo o município, porém, as regionais Norte e Sul detiveram maior números de casos humanos e maior risco de infecção canina em relação à regional Oeste. Ademais, o encontro de cães infectados advindos de outras cidades reforça a importância dos cães como dispersores do parasito e a necessidade de diagnóstico correto dos cães para prover medidas de controle mais eficazes no controle da disseminação da LV.
Impacto clínico e parasitológico no tratamento a curto prazo de cães com leishmaniose visceral utilizando miltefosina e alopurinol e identificação do locus de sensibilidade a miltefosina
A eutanásia de cães acometidos pela leishmaniose visceral (LV) é uma das medidas de controle da doença, mas está cada dia menos tolerada pelo laço afetivo que une espécie humana e canina. E diante dos estudos apontando que esta estratégia de controle não tem mostrado eficácia na redução dos casos humanos, o tratamento canino tem sido proposto como alternativa ao sacrifício de cães infectados. Os objetivos desta pesquisa foram tratar cães naturalmente infectados pela Leishmania infantum utilizando a miltefosina e alopurinol de forma isolada e em associação avaliando a eficácia dos protocolos através da redução dos sinais clínicos, da diminuição dos títulos de anticorpos pela imunofluorescência indireta (RIFI) e da redução da carga parasitária na pele pela qPCR em 28 dias de tratamento. Assim como, identificar a presença ou deleção do locus sensível a miltefosina (MSL) nas cepas de L. infantum que infectaram esses cães a partir de amostras biológicas coletadas antes dos tratamentos, correlacionando o MSL com a redução dos sinais clínicos e carga parasitária. Os protocolos com alopurinol isolado (20 mg/Kg/BID) ou associado a miltefosina (2 mg/kg/dia) promoveram de forma significativa a redução da carga de parasitos (p < 0.01 e p < 0.01, respectivamente) na pele. As terapias também promoveram declínio significativo dos sinais clínicos nos três grupos de cães (p < 0,01). Foi observada uma correlação moderada entre a carga parasitária da pele e o escore clínico em todos os três grupos de tratamento (r > 0,5). Já os títulos de anticorpos não diminuíram nesse curto período. O MSL foi identificado em 77,8% das cepas e 22,2% apresentaram deleção. A presença do MSL apresentou correlação com a melhora clínica independente do protocolo terapêutico instituído. No entanto, houve uma correlação forte e positiva em relação à diminuição da carga parasitária nos cães tratados exclusivamente com miltefosina, porém, com diminuição da correlação nos tratamentos com associação da miltefosina com alopurinol e alopurinol
isoladamente. Concluiu-se que o tratamento com alopurinol, em curto prazo, reduziu a quantidade de parasitos na pele dos cães com LV. No entanto, sua eficiência é potencializada quando associada a miltefosina. Também foi possível detectar o MSL a partir de amostras clínicas e que sua deleção está presente em cepas L. infantum circulantes em Cuiabá sugerindo a possibilidade uma resistência natural frente a esta droga. Contudo, a pesquisa sobre o MSL deve ser estimulada, pois há indícios que ele possa se tornar um marcador promissor para prever a eficácia da miltefosina conduzindo estratégicas terapêuticas mais eficientes.
Aspectos clínicos e imunológicos em cães com leishmaniose visceral tratados com miltefosina e/ou alopurinol
No Brasil, o tratamento da leishmaniose visceral canina (LVC) com miltefosina (MilteforanTM, Virbac) foi autorizado em 2016 e o medicamento lançado no mercado brasileiro em janeiro de 2017. Os relatórios sobre a condição clínica, clínico-patológica e imunológica de cães tratados no país são escassos. Assim, este ensaio clínico terapêutico avaliou e monitorou, a curto prazo, a eficácia de três protocolos farmacoterapêuticos: monoterapia de miltefosina (G1), miltefosina associada ao alopurinol (G2) e monoterapia de alopurinol (G3) em cães naturalmente infectados por Leishmania infantum. Quarenta e cinco cães com LVC foram designados igualmente para um dos três grupos de tratamento e examinados antes (D0) e depois (D29) da
intervenção medicamentosa. O artigo 1 foi desenvolvido com todos os grupos, enquanto o artigo 2 foi escrito com dois grupos G1 e G2. Os cães foram avaliados quanto aos sinais clínicos, hematológicos, bioquímicos, concentração sérica de anticorpos e de citocinas e biomarcadores urinários. Redução significativa (p<0,05) nos escores clínicos foi observada em todos os protocolos avaliados, sem diferença entre os grupos. Não observamos cura clínica em nenhum dos cães dos grupos. Os parâmetros hematológicos e bioquímicos apresentaram melhora em D29, com melhores resultados observados no G2. O título de anticorpos anti-Leishmania permaneceu elevado em todos os grupos. A quantificação de citocinas séricas, demonstrou perfil Th1/Th2 misto na LVC. Os níveis de IL-2 diminuíram em todos os grupos após o tratamento, porém não apresentaram diferença estatística. A avaliação de IFN-y e IL-10 não evidenciou alterações nos grupos analisados e não contribuiu para o acompanhamento terapêutico de curto prazo. Proteinúria e densidade urinária não diminuíram significativamente após os tratamentos. Com relação aos biomarcadores renais, a Cistatina C e microalbuminúria não apresentaram alterações significativas. Já a NGAL apresentou redução significativa no grupo G2 (p < 0,05). Todos os protocolos terapêuticos promoveram, em graus variados, melhora no quadro geral (sinal clínico, hematológico e bioquímico) dos cães. No entanto, a associação
de miltefosina e alopurinol (G2) promoveu melhores efeitos clínico-patológicos, representando a melhor opção para o tratamento da LVC, inclusive quando comparado ao único protocolo terapêutico permitido no Brasil, monoterapia com miltefosina (G1). A IL-2 apresentou comportamento similar nos grupos após os tratamentos, sugerindo que a diminuição dessa citocina possa estar associada ao controle terapêutico da infecção, além de serem potenciais marcadores terapêuticos para o monitoramento e acompanhamento de cães com LVC. Estes medicamentos se mostraram seguros para a função renal durante o período de acompanhamento, promovendo melhora nos biomarcadores urinários analisados.
Aspectos epidemiológicos da Leishmaniose visceral canina em Nossa Senhora do Livramento-MT, Brasil
No Brasil, a região Centro-Oeste tem apresentado aumento no número de casos de leishmaniose visceral humana (LVH) e canina (LVC). Com isso, o objetivo desse estudo foi avaliar a percepção dos tutores em relação a leishmaniose visceral, os fatores associados a LVC, a distribuição espacial e a prevalência de anticorpos anti-Leishmania spp. em 385 cães, a partir do teste rápido imunocromatográfico (DPP®) e ensaio imunoenzimático (ELISA) em Nossa Senhora do Livramento, Mato Grosso. Das 385 amostras, 54 foram reagentes para LVC pelo DPP® e confirmadas no ELISA, correspondendo a prevalência de 14,0%. Variáveis relacionadas aos cães, ao ambiente e a percepção foram significativas à ocorrência da LVC: conhecimento dos sinais da LVC pelos tutores (p = 0,03), ocorrência prévia da LVC na vizinhança (p = 0,0 2), cão sintomático (p = 0,01), esplenomegalia (p = 0,05) e apresentar úlcera em ponta de orelha (p = 0,05). Os resultados mostram expressiva prevalência de LVC, distribuída espacialmente tanto no contexto rural como urbano, e a associação de variáveis relacionadas ao ambiente e a percepção dos tutores com a ocorrência da LVC ressaltam a importância da implementação de estratégias de controle e prevenção, focadas principalmente no manejo ambiental e em atividades de educação em saúde.