Hemosporídeos são protozoários heteroxenos, cosmopolitas, que infectam diferentes grupos animais, incluindo aves, utilizando insetos hematófagos como vetores. O grupo
desses protozoários, composto pelos gêneros Plasmodium, Haemoproteus, Leucocytozoon e Fallisia, é encontrado infectando aves na natureza, porém os gêneros Plasmodium e Haemoproteus são os mais estudados. Embora estes agentes geralmente não causem doença, manifestando-se apenas como casos subclínicos, algumas evidências têm demonstrado que estes parasitos podem exercer uma importante pressão seletiva sobre seus hospedeiros, interferindo na sobrevivência, no comportamento reprodutivo e da comunidade das aves. Assim, este estudo teve como
objetivo detectar a infecção por Plasmodium spp. e Haemoproteus spp. em aves coletadas de setembro de 2016 a março de 2024 por meio do exame microscópico parasitológico de extensão sanguínea e Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR) de aves do estado de Mato Grosso, atendidas na rotina hospitalar do Setor de Animais Selvagens do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, seguido da determinação da parasitemia, caracterização morfológica e molecular, por meio do sequenciamento e análise filogenética. A detecção de Plasmodium spp. ou Haemoproteus spp. ocorreu em 73 das 352 aves (20,74%) através de extensão sanguínea e/ou análise molecular. Este trabalho contribuiu para o conhecimento da
frequência e diversidade de hemosporídeos em grupos de aves pouco frequentes nos estudos sobre hemosporídeos aviários do Brasil. Evidenciou a circulação de quinze linhagens diferentes de Plasmodium spp. e Haemoproteus spp. na avifauna do estado, sendo seis delas inéditas, além de realizar a descrição de uma nova espécie de Haemoproteus em Tyto furcata. Adicionalmente, reforçou a importância em incluir o diagnóstico para hemosporídeos aviários na avaliação de perfil sanitário de aves em ambiente hospitalar.
Palvra-chave: animais silvestres
Detecção e caracterização do vírus da Hepatite E em potenciais reservatórios silvestres
O vírus da hepatite E (HEV) é o agente etiológico responsável pela maioria dos quadros de hepatites agudas no mundo. Ainda que o curso evolutivo desses quadros culmine em pacientes assintomáticos ou autolimitados, alguns grupos como gestantes e pacientes imunocomprometidos podem desencadear quadros graves de hepatites agudas e até crônicas. A hepatite E possui padrões epidemiológicos distintos, sendo que os genótipos 1 e 2 possuem o homem como hospedeiro exclusivo e está associada aos grandes surtos, os genótipos 5 e 6 possuem o ciclo exclusivamente em animais, enquanto os genótipos 3, 4, 7 e 8 detém caráter zoonótico. Tanto no Brasil quanto em Portugal o HEV autóctone ocorre exclusivamente associado ao genótipo 3 e é transmitido majoritariamente por carne de suiformes (porcos e javalis), entretanto esse vírus tem sido reportado em inúmeros reservatórios silvestres. Portanto o objetivo deste trabalho foi averiguar potenciais reservatórios do HEV em animais silvestres de modo a incrementar o
conhecimento epidemiológico deste vírus. Então foi realizada uma revisão sistemática de todos os artigos sobre HEV no Brasil, com buscas em 5 bases de dados indexadas de modo a detectar possíveis lacunas. Com este trabalho foi possível identificar que o padrão epidemiológico do HEV no Brasil dependa da circulação do genótipo 3 de transmissão zoonótica. Nos cervídeos foi pesquisada a presença e caracterização do HEV em fezes de
veados de vida livre em Portugal, nomeadamente veados vermelhos (Cervus elaphus) (n=95) e de gamos (Dama dama) (n=35) através de nested RT-PCR pan-genotípicos seguido de sequenciamento bidirecional e análise filogenética. Duas fêmeas de veado vermelho, amostradas no centro de Portugal, foram positivas para o HEV (2,1%; intervalo de confiança de 95%: 0,58-7,35). O sequenciamento e caracterização genética mostraram que estas duas amostras HEV eram 98,96% idênticas, sendo ambas do genótipo HEV3, subgenótipo 3e. Este subgenótipo foi recentemente associado a infecções graves em humanos na Europa. Este é o primeiro relato de HEV em cervídeos de Portugal. O crescente número e distribuição de veados na região e as características zoonóticas do genótipo HEV3 subgenótipo 3e em circulação realça a importância da vigilância contínua dirigida às doenças de origem alimentar, especialmente as que envolvem animais selvagens e veados em particular. Por fim, foi conduzida uma investigação acerca da presença do HEV em fezes de micromamíferos de Portugal, nomeadamente em rato mediterrânico (Mus spretus) (n=26) e o, musaranho de dentes brancos (Crocidura russula) (n=14). Foi realizada a nested RT-PCR para a região ORF1 e ORF2, obtendo apenas a amplificação de uma amostra usando o primer com alvo na ORF2, sendo o amplificado submetido ao sequenciamento genético bidirecional. Dentre as 40 amostras analisadas, apenas uma amostra de Mus spretus foi positiva (2.5%; 95% CI: 0.06-13.16), evidenciando a ocorrência de 3.85% (95%CI: 0.01-19.64) (1/26) para a espécie. Após análise pelo HEVtool, foi caracterizado como HEV3e. Ainda que a maioria da literatura científica reporte a ocorrência de Orthohepesvirus C em roedores, neste estudo é
apresentado pela primeira vez a ocorrência de Orthohepesvirus A, HEV3 subgenótipo 3e em Mus spretus. A detecção deste patógeno em roedores sinantrópicos reforça a importância na vigilância de potenciais hospedeiros e aumentar o risco de spillover evidenciando a abordagem de saúde única no controle e prevenção de endemias.
Diagnóstico molecular de Mycobacterium leprae no estado de Mato Grosso, Centro-Oeste, Brasil
O Mycobacterium leprae é um bacilo causador da hanseníase, uma doença infecciosa crônica, sendo hiperendêmica, no Estado do Mato Grosso, Brasil. Além dos humanos, infecções em animais silvestres já foram relatadas na literatura. Devido à alta prevalência em humanos e a falta de dados sobre infecção natural em animais, o objetivo da pesquisa foi investigar a infecção por M. leprae em animais de vida livre e à ocorrência de genótipos com base em números variáveis de repetições de polimorfismos (TTC) em humanos. Foi utilizado a reação em cadeia da polimerase (PCR) usando par de primers específicos RLEP e TTC. Assim a extração de DNA ocorreu em 228 lâminas de baciloscopia de esfregaço cutâneo de pacientes humanos atendidos no centro de referência para controle da hanseníase da região Centro-oeste do Brasil, em 144 amostras de tecidos (sangue e baço) pertencentes a 25 espécimes de animais silvestres de vida livre atropelados nas rodovias. E em 269 amostras de baço de pequenos mamíferos silvestres não-voadores, pertencentes a ordem Didelphimorphia e Rondentia, oriundos de expedições a campo nos biomas Amazônia e Cerrado. Todas as amostras são
provenientes do Estado de Mato Grosso, Brasil. Assim, foram positivas 18,8% (43/228) das lâminas de baciloscopia. No entanto, M. leprae foi detectado pela PCR pelo gene RLEP em 75,9% (173/228) das lâminas. Desses positivos, foi realizada a genotipagem com o primer TTC, amplificando 50,86% (88/173). Os genótipos TTC encontrados apresentaram grande variabilidade dos TTC11 17% (15/88) e TTC12 45,4% (40/88). Dos 25 espécimes dos animais silvestres de vida livre atropelados, 44% (11/25) foram positivos no PCR-RLEP. Nos pequenos mamíferos silvestres não-voadores foram positivos no PCR-RLEP em 13,75% (37/269) das amostras. De acordo com esses estudos, com base na metodologia utilizada, podemos concluir
que a sensibilidade da PCR-RLEP em relação a baciloscopia é relativamente superior, e que os genótipos de M. leprae apresentaram variabilidade em humanos, com isso indica que esses genótipos podem estar geograficamente relacionados à região estudada. Os animais de vida livre, Cavia aperea, Cerdocyon thirty, Chrysocyon brachyurus, Euphractus sexcinctus, Hydrochoerus hydrochaeris, Mazama gouazoubira, Mico melanurus, Nasua nasua, Puma
concolor e Tamandua tetradactyla; e os mamíferos silvestres não-voadores, Cryptonanus sp., Marmosa constantiae, Didelphis albiventris, Gracilinanus agilis, Proechimys roberti, Cerradomys sp., Neacomys sp., e Thrichomys pachyurus; podem desempenhar um papel importante na epidemiologia da hanseníase o que contribui para uma visão de Saúde Única. Diante do exposto, se faz necessário explorar os achados em humanos e animais descritos nessa pesquisa para o entendimento futuro da correlação desses resultados na transmissão entre humanos, animais e meio ambiente.
Perfil hematológico, bioquímico e consumo de nutrientes de Tamanduás-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) alimentados com diferentes dietas em cativeiro
Os tamanduás-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) são insetívoros e atualmente ainda é restrito o conhecimento sobre as necessidades nutricionais desta espécie. O presente estudo teve como objetivo verificar a influência da alimentação de diferentes dietas formuladas para tamanduás-bandeira em cativeiro, no perfil hematológico e bioquímico desses animais, bem como a composição e consumo de nutrientes dessas dietas. O estudo foi conduzido com quatro tamanduás-bandeira adultos, sendo três machos e uma fêmea, com peso médio de 40,44±2,58 kg, mantidos no Zoológico da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá – Mato Grosso, Brasil, no período de abril de 2011 a julho de 2011.