Uma das maiores preocupações na saúde pública são microrganismos multirresistentes a drogas (MDR) e a Klebsiella spp. que possui uma grande
importância na medicina humana e veterinária, causando diversos tipos de infecções e alta resistencia a drogas. Com o contato proximo de humanos e animais domesticos e silvestres, há o risco de doenças zoonoticas e a propagação de superbactérias multirresistentes. Visando o conceito One health, animais, humanos e ambiente podem atuar como reservatórios e disseminadores de superbactérias MDR. O objetivo deste trabalho foi traçar o grau de similaridade entre os isolados do complexo de Klebsiella spp. detectados em humanos, animais domésticos e silvestres, além de verificar a disseminação de clones resistentes dentro do estado de Mato Grosso e comparar com dados epidemiológicos de diferentes regiões do Brasil e do mundo. Os isolados oriundos de diferentes sítios de lesão foram identificados e confirmados pelo sequenciamento do gene 16S rRNA como pertencentes ao complexo K. pneumoniae e foi realizado o teste de susceptibilidade antimicrobiana, pelo método de difusão em disco em animais e em humanos pelo método de Concentração Inibitória Mínima (MIC) realizados nos sistemas Bact / Alert 3D e Vitek2. Os isolados extraídos foram submetidos a técnica de Multi Locus Sequence Typing (MLST) como descrito pelo Instituto Pasteur. Um total de 85% (62/73) de todos os isolados deste estudo foram considerados multirresistentes a drogas (MDR). Nos isolados de animais domesticos e silvestres foram observados altas taxas de resistência a amoxicilina 97% (56/58), ampicilina 93% (54/58), sulfonamidas 93% (54/58) e nitrofurantoína 91% (53/58). Taxas menores foram encontradas em amicacina 17% (10/58), meropenem 7% (4/58) e imipenem 3% (2/58), sendo 93% (54/58) dos isolados dos animais considerados MDR. Os isolados de humanos apresentaram uma alta resistência aos betas lactâmicos principalmente a ampicilina 100% (15/15) e menor resistência a amicacina 13% (02/15) e a colistina 33% (05/15), sendo 53% (08/15) dessesconsiderados MDR. Foram encontrados 60 Sequence type (ST) e destes, 20 foram considerados ST novos, pois houve detecção de novos alelos e não houve predomínio de STs. Devido aos poucos dados de infecção em animais silvestres e domésticos no estado de Mato Grosso, Brasil, que possui 3 biomas como o Pantanal, Amazônia e Cerrado, e considerando a importância da Klebsiella spp. em One Health,
o conhecimento da estrutura populacional do complexo K. pneumoniae é importante para determinar a relação entre os organismos MDR, bem como a fonte de infecção durante surtos fornecendo dados para um maior controle na saúde pública.
Dissertações/Teses
Sazonalidade e susceptibilidade antimicrobiana da microbiota ocular de bovinos de uma microrregião do cerrado do estado de Mato Grosso, Brasil
A conjuntiva e a córnea são os principais locais acometidos por oftalmopatias em bovinos, estas alterações levam a processos dolorosos e desse modo
podem ocasionar diversos prejuízos econômicos. Olhos saudáveis possuem uma microbiota natural, que quando em equilíbrio não costuma gerar infecções
oculares, contudo em algumas situações como traumas ou estresse, estas podem se tornar potencialmente patogênicas. A moraxella spp. é uma bactéria
gram negativa, e agente etiológico da ceratoconjuntivite infecciosa bovina (IBK), que é uma importante afecção oftalmológica que acomete bovinos.
Desse modo objetivou-se detectar a presença de Moraxella spp. na conjuntiva normal de bovinos sem sinais clínicos de ceratoconjuntivite infecciosa bovina e determinar a prevalência bacteriana nos isolados do saco conjuntival sadio de bovinos leiteiros e bovinos de corte, em dois períodos distintos do ano (seca e chuva) em uma microrregião do Estado de Mato Grosso. Foram coletados 144 swabs do saco conjuntival, sendo 74 de bovinos de produção leiteira correspondendo ao período de chuva (39) e de seca (35) e 70 swabs de bovinos de corte no período de chuva (35) e seca (35). Os isolados bacterianos foram identificados com auxílio de coloração de Gram e testes bioquímicos para classificação do gênero. No total foram isolados 12 gêneros bacterianos distintos, havendo prevalência de agentes Gram-positivos no período de seca e de Gram-negativos no período chuvoso em ambas as categorias avaliadas. A bactéria predominantemente isolada foi o Bacillus cereus (75,69%). A detecção da Moraxella foi realizada através da PCR, das 144 amostras submetidas a esta análise 12 (8,33%) amplificaram um fragmento de 600pb. Destas, 5 eram de gado de leite no período chuvoso e 7 eram de gado de corte em período de seca. Objetivando a confirmação da espécie de Moraxella um produto da PCR foi submetida a sequenciamento e comparados ao banco de dados BLAST-n, onde apresentou 98,86% de identidade com Moraxella bovoculli. O estudo demonstrou que a microbiota ocular de bovinos sofre variações com a sazonalidade climática. Embora os animais do estudo não apresentassem sinais clínicos de IBK e mesmo não havendo crescimento de bactéria do gênero Moraxella na cultura a mesma foi detectada na PCR.
Composição e estrutura das comunidades de helmintos de Didelphis marsupialis linnaeus. 1758, (didelphimorphia, didelphidae), Em ambiente de transição dos biomas cerrado e amazônia no Estado do Mato Grosso.
Dentre as espécies de marsupiais do Brasil o gênero Didelphis é o mais parasitado por helmintos. Apesar da ampla ocorrência de endoparasitos em animais silvestres do gênero Didelphis, existe um déficit de informações sobre a helmintofauna destes animais no bioma Floresta Amazônica. Além disso, estudos de estrutura de comunidade de helmintos são raros no Brasil e nenhum foi feito até o momento para didelfídeos no bioma amazônico. Os objetivos desta tese foram descrever a composição de espécies e analisar a estrutura das comunidades de helmintos do gambá Didelphis marsupialis do domínio fitogeográfico de transição Floresta Amazônica e Cerrado. Este estudo busca ampliar conhecimento da fauna helmintológica desses hospedeiros silvestres com grande importância na realização de um inventário da diversidade de espécies e na determinação do risco para a saúde pública e animal. Neste manuscrito relatamos a ocorrência de algumas espécies de helmintos encontradas em Didelphis marsupialis, popularmente conhecido por
gambá-de-orelha-preta. Na área de estudo foram coletados em 17 transecções, no município de Sinop e Cláudia, Mato Grosso, Brasil. O conteúdo do canal alimentar fora processado individualmente e examinados em microscópio estereoscópico em 10X. Um dos mais importantes resultados obtidos foi a presença do helminto Didelphonema longispiculata pela primeira vez encontrado no Brasil, foi observado com uma prevalência de 43,75% (14/32) de animais positivos, intensidade média 7,71 e abundância de 3,38 (Tabela 2). Didelphonema longispiculata, o qual só havia sido relatado nos Estados Unidos em Didelphis virginiana e Tirinidad e Tobago no gambá insular Didelphis marsupialis insularis. Toda morfometria do parasita está de acordo
com as descrições na literatura para esta espécie Didelphonema longispiculata, o que confirma a identificação da espécie, este estudo também apresenta análises molecular e filogenética, imagens por microscopia óptica e de microscopia por varredura eletrônica os quais não haviam sido mostradas anteriormente. Os resultados indicaram que a fauna helmíntica de D. marsupialis no sul da Amazônia de transição com Cerrado, foi semelhante à fauna helmíntica observada em outras regiões e às espécies mais congêneras D. aurita e D. albiventris. O sexo hospedeiro não estava relacionado à abundância ou prevalência. No entanto, a idade do hospedeiro influenciou a abundância e prevalência de acantocéfalas e do
nematódeo D. longispiculata.
Detecção molecular de Brucella abortus, Toxoplasma gondii e Leshmania spp. em felídeos silvestres de vida livre e de cativeiro no estado de Mato Grosso-Brasil
A maioria das doenças infecciosas emergentes são predominantemente zoonoses sendo a grande parte de origem silvestre. Os felídeos silvestres desempenham importante papel na epidemiologia de patógenos que podem afetar a saúde tanto de animais domésticos como silvestres e a saúde humana, servindo como hospedeiros reservatórios. Dessa forma o objetivo foi diagnosticar através da técnica molecular da PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) as espécies de B. abortus, T. gondii e Leishmania spp. em amostras de sangue de felídeos silvestres de vida livre e de cativeiro do Estado do Mato Grosso, Brasil. Foram testadas 23 amostras sanguíneas de 06 espécies de felídeos silvestres (Leopardus colocolo, Leopardus pardalis,
Leopardus wiedii, Pantera onca, Puma concolor e Puma yagouaorundii). B. abortus foi detectada em 4,34% (1/23), um Puma concolor de cativeiro. T. gondii estava presente 13,04% dos felídeos (3/23), sendo 2 animais de vida livre (Leopardus colocolo e Leopardus pardalis) e 1 animal de cativeiro (Puma concolor). Leshmania spp. estava presente 8,69% dos felídeos (2/23), sendo 2 animais de vida livre (Leopardus pardalis e Puma concolor). Os resultados obtidos demonstram que os microrganismos B. abortus, T.PCR gondii e Leishmania spp. estão presentes em felídeos silvestres. Esses animais desempenham importante papel na função ecológica, uma vez que são portadores de patógenos infecciosos mesmo sem o desenvolvimento de doença clínica. A detecção em animais de cativeiro e de vida livre demonstra a importância do monitoramento relacionado a agentes etiológicos de caráter zoonótico, para que possam ser adotadas medidas terapêuticas e profiláticas adequadas.
Detecção do vírus da hepatite e em suínos (sus scrofa) e produtos processados derivados no estado de Mato Grosso, Brasil
A hepatite E é uma enfermidade emergente causada pelo Vírus da Hepatite E (HEV). Em decorrência da transmissão zoonótica, HEV é reconhecido no conceito de Saúde Única e segurança alimentar. Esta tese foi dividida em dois artigos. O primeiro artigo utilizou 25 amostras de fígado de suínos armazenados em blocos de parafina. Essas amostras são provenientes de um estudo publicado de detecção molecular e imuno-histoquímica (IHQ), que utilizou a proteína ORF3 (pORF3) de HEV, demonstrando 4% (1/25) de imunomarcação positiva e 96% (24/25) negativa. Com o objetivo de aumentar a sensibilidade da técnica de IHQ, essas amostras foram analisadas utilizando o anticorpo para detecção da proteína ORF2 (pORF2) de HEV, apresentando 24% (6/25) de imunomarcação positiva e 76% (19/25) negativa.Desta forma, o uso do anticorpo para pORF2 ampliou o número de casos de HEV detectáveis
na IHQ em 600%. O segundo artigo utilizou 58 amostras de produtos cárneos suínos adquiridos em pontos de venda distintos (feiras municipais e redes de supermercado) no município de Cuiabá/Mato Grosso, os quais foram submetidos ao exame molecular com o objetivo de realizar a detecção viral em produtos alimentícios. Todas as amostras de alimentos provenientes de feiras foram negativas quanto a presença do RNA de HEV. Em relação aos supermercados, 2 amostras de patês (2/7) foram positivos no exame molecular (28,5%). Deste modo, o primeiro artigo demonstrou que a IHQ utilizando um anticorpo monoclonal para a pORF2 de HEV somada a técnicas moleculares pode ser utilizada com o objetivo de melhorar a acurácia na detecção
viral, aprimorando o diagnóstico de animais sentinelas e monitorando a circulação de HEV. O segundo trabalho reforçou que produtos cárneos processados derivados de suínos podem representar uma fonte de infecção pelo HEV, reforçando a necessidade de monitoramento de rebanhos suínos, visando a prevenção da transmissão zoonótica de HEV para populações humanas na região Centro-Oeste do Brasil.
Detecção e caracterização do vírus da Hepatite E em potenciais reservatórios silvestres
O vírus da hepatite E (HEV) é o agente etiológico responsável pela maioria dos quadros de hepatites agudas no mundo. Ainda que o curso evolutivo desses quadros culmine em pacientes assintomáticos ou autolimitados, alguns grupos como gestantes e pacientes imunocomprometidos podem desencadear quadros graves de hepatites agudas e até crônicas. A hepatite E possui padrões epidemiológicos distintos, sendo que os genótipos 1 e 2 possuem o homem como hospedeiro exclusivo e está associada aos grandes surtos, os genótipos 5 e 6 possuem o ciclo exclusivamente em animais, enquanto os genótipos 3, 4, 7 e 8 detém caráter zoonótico. Tanto no Brasil quanto em Portugal o HEV autóctone ocorre exclusivamente associado ao genótipo 3 e é transmitido majoritariamente por carne de suiformes (porcos e javalis), entretanto esse vírus tem sido reportado em inúmeros reservatórios silvestres. Portanto o objetivo deste trabalho foi averiguar potenciais reservatórios do HEV em animais silvestres de modo a incrementar o
conhecimento epidemiológico deste vírus. Então foi realizada uma revisão sistemática de todos os artigos sobre HEV no Brasil, com buscas em 5 bases de dados indexadas de modo a detectar possíveis lacunas. Com este trabalho foi possível identificar que o padrão epidemiológico do HEV no Brasil dependa da circulação do genótipo 3 de transmissão zoonótica. Nos cervídeos foi pesquisada a presença e caracterização do HEV em fezes de
veados de vida livre em Portugal, nomeadamente veados vermelhos (Cervus elaphus) (n=95) e de gamos (Dama dama) (n=35) através de nested RT-PCR pan-genotípicos seguido de sequenciamento bidirecional e análise filogenética. Duas fêmeas de veado vermelho, amostradas no centro de Portugal, foram positivas para o HEV (2,1%; intervalo de confiança de 95%: 0,58-7,35). O sequenciamento e caracterização genética mostraram que estas duas amostras HEV eram 98,96% idênticas, sendo ambas do genótipo HEV3, subgenótipo 3e. Este subgenótipo foi recentemente associado a infecções graves em humanos na Europa. Este é o primeiro relato de HEV em cervídeos de Portugal. O crescente número e distribuição de veados na região e as características zoonóticas do genótipo HEV3 subgenótipo 3e em circulação realça a importância da vigilância contínua dirigida às doenças de origem alimentar, especialmente as que envolvem animais selvagens e veados em particular. Por fim, foi conduzida uma investigação acerca da presença do HEV em fezes de micromamíferos de Portugal, nomeadamente em rato mediterrânico (Mus spretus) (n=26) e o, musaranho de dentes brancos (Crocidura russula) (n=14). Foi realizada a nested RT-PCR para a região ORF1 e ORF2, obtendo apenas a amplificação de uma amostra usando o primer com alvo na ORF2, sendo o amplificado submetido ao sequenciamento genético bidirecional. Dentre as 40 amostras analisadas, apenas uma amostra de Mus spretus foi positiva (2.5%; 95% CI: 0.06-13.16), evidenciando a ocorrência de 3.85% (95%CI: 0.01-19.64) (1/26) para a espécie. Após análise pelo HEVtool, foi caracterizado como HEV3e. Ainda que a maioria da literatura científica reporte a ocorrência de Orthohepesvirus C em roedores, neste estudo é
apresentado pela primeira vez a ocorrência de Orthohepesvirus A, HEV3 subgenótipo 3e em Mus spretus. A detecção deste patógeno em roedores sinantrópicos reforça a importância na vigilância de potenciais hospedeiros e aumentar o risco de spillover evidenciando a abordagem de saúde única no controle e prevenção de endemias.
Detecção de fatores de virulência e do gene de resistência blakpc-2 em isolados de Klebsiella pneumoniae de humanos e de animais domésticos e silvestres
Klebsiella pneumoniae é um membro da família Enterobacteriaceae reconhecido pela habilidade de desenvolver mecanismos associados a alta patogenicidade e resistência aos antimicrobianos. O objetivo deste trabalho foi detectar a presença de fatores de virulência e o gene de resistência blaKPC-2 de isolados de K. pneumoniae de humanos, animais domésticos e silvestres no estado de Mato Grosso. No total, 85 amostras (69 provenientes de animais e 16 de humanos) foram submetidas à técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) para detecção dos genes entB, fimH, mrkD, wabG, ugE, kfuBC, magA, k2A, rmpA e blaKPC-2. Em isolados humanos, os fatores de virulência mais detectados foram ugE (62,5%), entB (43,7%), fimH (31,2%)
e wabG (31,2%). O gene blaKPC-2 foi detectado em três isolados humanos. Nos animais domésticos, os genes mais detectados foram entB (65,8%), fimH (58,5%) e wabG (48,8%), enquanto nos animais silvestres foram entB (78,6%), wabG (71,4%) e ugE (57,1%). Nos animais o gene blaKPC-2 foi detectado em uma amostra. Os dados apresentados demonstram uma grande distribuição de isolados contendo fatores de virulência e o gene de resistência blaKPC-2 no estado de Mato Grosso, representando uma ameaça e um problema tanto na Medicina Veterinária como em Saúde Pública devido a possível disseminação e transferência de genes de resistência e virulência entre os patógenos.
Aspectos epidemiológicos, clínicos, morfológicos, histomorfométricos e mensuração tecidual dos níveis de cobre na intoxicação espontânea por cobre em bovinos de corte
Cobre é um micromineral essencial, que quando em excesso pode induzir necrose hepática, anemia hemolítica, nefrose hemoglobinúrica que podem
resultar na morte de bovinos. Os objetivos desse trabalho são (1) descrever os aspectos epidemiológicos, clínicos e anatomopatológicos de um surto de intoxicação por cobre em bovinos; e (2) descrever as alterações hepáticas histológicas e histomorfométricas da afecção em bovinos intoxicados e com quadro subclínico, comparando com um grupo de bovinos controle. O surto ocorreu em bovinos semiconfinados após suplementação com 50mg/kg de
cobre em matéria seca com óbito de 35 bovinos. A necropsia foi realizada em 20 animais e as alterações macroscópicas mais frequentes foram icterícia, fígado aumentado e com padrão lobular evidente, rins e conteúdo da bexiga urinária de coloração acastanhada a enegrecida. Microscopicamente, no fígado havia degeneração vacuolar e ou necrose coagulativa hepatocelular zonal, centrolobular ou paracentral. Nos rins notou-se degeneração vacuolar ou hialina e necrose coagulativa do epitélio tubular assim como cilindros de hemoglobina intratubulares. Os níveis de cobre detectados no fígado e rim foram de 5.901,24 a 28.373,14μmol/kg e 303,72 a 14.021μmol/kg respectivamente. O estudo dos aspectos morfológicos e histomorfométricos descrevem as diferenças qualitativas e quantitativas de alterações hepatocelulares entre os três grupos comparados: bovinos que apresentaram doença clínica (GD), subclínicos (GSC) e de um grupo controle (GC). Os valores de cobre na matéria seca de fígado (MS) variaram de 720 a 1019 um/Cu/g no GSC; de 498 a 1803 um/Cu/g no GD e de 299 a 418 um/Cu/g no GC. Em amostras de fígado de observou-se que alterações degenerativas e de necrose aleatória foram predominantes no GSC e de necrose centrolobular no GD. Os hepatócitos do GC eram maiores e de núcleo centralizado e esférico. Esses parâmetros se alteraram de forma decrescente nos GSC e GD com hepatócitos menores, com desvio nuclear e irregularidade do contorno nuclear com todos os valores estatisticamente significativos (p<0,001). É possível concluir que bovinos com mais de 500μg/Cu/g de MS apresentam quando doentes o predomínio de necrose centrolobular e quando subclínicos degeneração e necrose aleatória hepatocelular. Essas alterações,
histomorfometricamente foram demonstradas pela diminuição e irregularidade do contorno do hepatócito conforme a evolução da intoxicação.
Detecção molecular de agentes patogênicos em primatas neotropicais no estado de Mato Grosso, Brasil
Com o crescimento das cidades, o desmatamento, a expansão da agricultura e a manutenção da fauna silvestre em cativeiro, os primatas neotropicais estão mais próximos dos humanos, aumentando o risco de disseminação das zoonoses, pois podem atuar como reservatórios de inúmeros patógenos. No Brasil, as informações sobre a sanidade desses animais são escassas e o diagnóstico pode auxiliar no entendimento epidemiológico para implementação de medidas profiláticas e controle dessas doenças. Portanto, o presente estudo teve como objetivo verificar o perfil sanitário de primatas por meio da Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). Entre 2017 e 2019, foram coletadas amostras de sangue total de 38 primatas Neotropicais de vida livre e cativos de seis espécies diferentes (Alouatta caraya, Aotus azarae, Aotus infulatus, Ateles marginatus, Mico melanurus e Sapajus apella), oriundas de sete cidades do estado de Mato Grosso, Centro-Oeste do Brasil. Os agentes pesquisados foram: Leishmania spp., Trypanosoma spp., Toxoplasma gondii, Neospora caninum, Brucella spp. e Leptospira spp. Para os tripanossomatídeos, nove (23,68%) amostras positivas foram identificadas para o gênero Leishmania: sete (18,42%) como L. infantum e dois (5,26%) animais foram positivos para L. (L.) amazonensis; e dois (5,26%) animais para o gênero Trypanosoma: um T. minasense e outro T. rangeli. Foi detectado L. infantum na espécie Aotus azarae, sendo a primeira descrição dessa associação espécie-hospedeiro. Para os demais agentes, 11 (28,95%) amostras foram positivas para T. gondii, 10 (26,32%) foram positivas para
N. caninum e 13 (34,21%) amostras apresentaram DNA de Brucella spp. Nesse estudo não foi encontrado a presença de material genético de Leptospira spp. nas amostras testadas. Esta pesquisa contribuiu para o entendimento do perfil sanitário de primatas neotropicais de vida livre e de cativeiro no Estado de Mato Grosso, Brasil, e demonstrou a importância desses animais em desempenhar o papel de hospedeiros e possíveis fontes de infecção dos agentes encontrados para outros animais e humanos. A detecção molecular evidenciou a susceptibilidade dos animias dessa região a inúmeros patógenos potencialmente fatais, implicando diretamente na sua conservação. Este é o primeiro estudo realizado no Estado de Mato Grosso em que se avalia o perfil sanitário de primatas neotropicais de vida livre e cativos.
Diagnóstico molecular de Mycobacterium leprae no estado de Mato Grosso, Centro-Oeste, Brasil
O Mycobacterium leprae é um bacilo causador da hanseníase, uma doença infecciosa crônica, sendo hiperendêmica, no Estado do Mato Grosso, Brasil. Além dos humanos, infecções em animais silvestres já foram relatadas na literatura. Devido à alta prevalência em humanos e a falta de dados sobre infecção natural em animais, o objetivo da pesquisa foi investigar a infecção por M. leprae em animais de vida livre e à ocorrência de genótipos com base em números variáveis de repetições de polimorfismos (TTC) em humanos. Foi utilizado a reação em cadeia da polimerase (PCR) usando par de primers específicos RLEP e TTC. Assim a extração de DNA ocorreu em 228 lâminas de baciloscopia de esfregaço cutâneo de pacientes humanos atendidos no centro de referência para controle da hanseníase da região Centro-oeste do Brasil, em 144 amostras de tecidos (sangue e baço) pertencentes a 25 espécimes de animais silvestres de vida livre atropelados nas rodovias. E em 269 amostras de baço de pequenos mamíferos silvestres não-voadores, pertencentes a ordem Didelphimorphia e Rondentia, oriundos de expedições a campo nos biomas Amazônia e Cerrado. Todas as amostras são
provenientes do Estado de Mato Grosso, Brasil. Assim, foram positivas 18,8% (43/228) das lâminas de baciloscopia. No entanto, M. leprae foi detectado pela PCR pelo gene RLEP em 75,9% (173/228) das lâminas. Desses positivos, foi realizada a genotipagem com o primer TTC, amplificando 50,86% (88/173). Os genótipos TTC encontrados apresentaram grande variabilidade dos TTC11 17% (15/88) e TTC12 45,4% (40/88). Dos 25 espécimes dos animais silvestres de vida livre atropelados, 44% (11/25) foram positivos no PCR-RLEP. Nos pequenos mamíferos silvestres não-voadores foram positivos no PCR-RLEP em 13,75% (37/269) das amostras. De acordo com esses estudos, com base na metodologia utilizada, podemos concluir
que a sensibilidade da PCR-RLEP em relação a baciloscopia é relativamente superior, e que os genótipos de M. leprae apresentaram variabilidade em humanos, com isso indica que esses genótipos podem estar geograficamente relacionados à região estudada. Os animais de vida livre, Cavia aperea, Cerdocyon thirty, Chrysocyon brachyurus, Euphractus sexcinctus, Hydrochoerus hydrochaeris, Mazama gouazoubira, Mico melanurus, Nasua nasua, Puma
concolor e Tamandua tetradactyla; e os mamíferos silvestres não-voadores, Cryptonanus sp., Marmosa constantiae, Didelphis albiventris, Gracilinanus agilis, Proechimys roberti, Cerradomys sp., Neacomys sp., e Thrichomys pachyurus; podem desempenhar um papel importante na epidemiologia da hanseníase o que contribui para uma visão de Saúde Única. Diante do exposto, se faz necessário explorar os achados em humanos e animais descritos nessa pesquisa para o entendimento futuro da correlação desses resultados na transmissão entre humanos, animais e meio ambiente.