O Mycobacterium leprae é um bacilo causador da hanseníase, uma doença infecciosa crônica, sendo hiperendêmica, no Estado do Mato Grosso, Brasil. Além dos humanos, infecções em animais silvestres já foram relatadas na literatura. Devido à alta prevalência em humanos e a falta de dados sobre infecção natural em animais, o objetivo da pesquisa foi investigar a infecção por M. leprae em animais de vida livre e à ocorrência de genótipos com base em números variáveis de repetições de polimorfismos (TTC) em humanos. Foi utilizado a reação em cadeia da polimerase (PCR) usando par de primers específicos RLEP e TTC. Assim a extração de DNA ocorreu em 228 lâminas de baciloscopia de esfregaço cutâneo de pacientes humanos atendidos no centro de referência para controle da hanseníase da região Centro-oeste do Brasil, em 144 amostras de tecidos (sangue e baço) pertencentes a 25 espécimes de animais silvestres de vida livre atropelados nas rodovias. E em 269 amostras de baço de pequenos mamíferos silvestres não-voadores, pertencentes a ordem Didelphimorphia e Rondentia, oriundos de expedições a campo nos biomas Amazônia e Cerrado. Todas as amostras são
provenientes do Estado de Mato Grosso, Brasil. Assim, foram positivas 18,8% (43/228) das lâminas de baciloscopia. No entanto, M. leprae foi detectado pela PCR pelo gene RLEP em 75,9% (173/228) das lâminas. Desses positivos, foi realizada a genotipagem com o primer TTC, amplificando 50,86% (88/173). Os genótipos TTC encontrados apresentaram grande variabilidade dos TTC11 17% (15/88) e TTC12 45,4% (40/88). Dos 25 espécimes dos animais silvestres de vida livre atropelados, 44% (11/25) foram positivos no PCR-RLEP. Nos pequenos mamíferos silvestres não-voadores foram positivos no PCR-RLEP em 13,75% (37/269) das amostras. De acordo com esses estudos, com base na metodologia utilizada, podemos concluir
que a sensibilidade da PCR-RLEP em relação a baciloscopia é relativamente superior, e que os genótipos de M. leprae apresentaram variabilidade em humanos, com isso indica que esses genótipos podem estar geograficamente relacionados à região estudada. Os animais de vida livre, Cavia aperea, Cerdocyon thirty, Chrysocyon brachyurus, Euphractus sexcinctus, Hydrochoerus hydrochaeris, Mazama gouazoubira, Mico melanurus, Nasua nasua, Puma
concolor e Tamandua tetradactyla; e os mamíferos silvestres não-voadores, Cryptonanus sp., Marmosa constantiae, Didelphis albiventris, Gracilinanus agilis, Proechimys roberti, Cerradomys sp., Neacomys sp., e Thrichomys pachyurus; podem desempenhar um papel importante na epidemiologia da hanseníase o que contribui para uma visão de Saúde Única. Diante do exposto, se faz necessário explorar os achados em humanos e animais descritos nessa pesquisa para o entendimento futuro da correlação desses resultados na transmissão entre humanos, animais e meio ambiente.
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