A eutanásia de cães acometidos pela leishmaniose visceral (LV) é uma das medidas de controle da doença, mas está cada dia menos tolerada pelo laço afetivo que une espécie humana e canina. E diante dos estudos apontando que esta estratégia de controle não tem mostrado eficácia na redução dos casos humanos, o tratamento canino tem sido proposto como alternativa ao sacrifício de cães infectados. Os objetivos desta pesquisa foram tratar cães naturalmente infectados pela Leishmania infantum utilizando a miltefosina e alopurinol de forma isolada e em associação avaliando a eficácia dos protocolos através da redução dos sinais clínicos, da diminuição dos títulos de anticorpos pela imunofluorescência indireta (RIFI) e da redução da carga parasitária na pele pela qPCR em 28 dias de tratamento. Assim como, identificar a presença ou deleção do locus sensível a miltefosina (MSL) nas cepas de L. infantum que infectaram esses cães a partir de amostras biológicas coletadas antes dos tratamentos, correlacionando o MSL com a redução dos sinais clínicos e carga parasitária. Os protocolos com alopurinol isolado (20 mg/Kg/BID) ou associado a miltefosina (2 mg/kg/dia) promoveram de forma significativa a redução da carga de parasitos (p < 0.01 e p < 0.01, respectivamente) na pele. As terapias também promoveram declínio significativo dos sinais clínicos nos três grupos de cães (p < 0,01). Foi observada uma correlação moderada entre a carga parasitária da pele e o escore clínico em todos os três grupos de tratamento (r > 0,5). Já os títulos de anticorpos não diminuíram nesse curto período. O MSL foi identificado em 77,8% das cepas e 22,2% apresentaram deleção. A presença do MSL apresentou correlação com a melhora clínica independente do protocolo terapêutico instituído. No entanto, houve uma correlação forte e positiva em relação à diminuição da carga parasitária nos cães tratados exclusivamente com miltefosina, porém, com diminuição da correlação nos tratamentos com associação da miltefosina com alopurinol e alopurinol
isoladamente. Concluiu-se que o tratamento com alopurinol, em curto prazo, reduziu a quantidade de parasitos na pele dos cães com LV. No entanto, sua eficiência é potencializada quando associada a miltefosina. Também foi possível detectar o MSL a partir de amostras clínicas e que sua deleção está presente em cepas L. infantum circulantes em Cuiabá sugerindo a possibilidade uma resistência natural frente a esta droga. Contudo, a pesquisa sobre o MSL deve ser estimulada, pois há indícios que ele possa se tornar um marcador promissor para prever a eficácia da miltefosina conduzindo estratégicas terapêuticas mais eficientes.
Dissertações