Atualmente o método utilizado para diagnóstico de contaminação por urina no sêmen é a observação da coloração, odor e pH da amostra. Entretanto, esse apresenta baixa sensibilidade quando a contaminação é pequena. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a sensibilidade da uréia e creatinina para diagnóstico de contaminação por urina em sêmen de cães coletados por manipulação digital e avaliar os efeitos da contaminação intencional por urina em sêmen refrigerado usando a dosagem de uréia e creatinina. No experimento 1, foram coletados sêmen (segunda fração – F2 e
terceira fração – F3) e urina (SU) de 6 cães adultos (2-7 anos), clinicamente saudáveis e dosados os níveis de creatinina, ureia e o pH das amostras. A média e desvio padrão da ureia de F2, F3 e SU foram, respectivamente, 75,4±93,8 mg/dL; 35,4±8,35 mg/dL; 2175±497 U/L, de creatinina foram 3,48±4,49 mg/dL; 0,6±0,34 mg/dL; 269±99,9 mg/dL e o pH foram de 5,57±0,53; 5,8±0,84 e 6,92±1,28. Houve diferença entre o pH das amostras da F2 com SU (p<0,05), das amostras de F3 com SU (p<0,05), apresentando-se mais elevado na urina em relação ao sêmen. A diferença estatística na ureia ocorreu entre F2 e F3 em relação a SU (p<0,001) e houve diferença entre todas as amostras em relação a creatinina(p<0,05). No experimento 2 foi coletado o sêmen de nove cães machos adultos por manipulação digital e diluído em CaniPlus Chill ST conforme recomendação do fabricante, sendo que cada amostra foi dividida em 4 eppendorfs: sem contaminação (S0), contaminado com 5% (S1), 10% (S2) e 20% (S3) de urina e avaliado no tempo inicial T0 (sêmen fresco), após 6 horas (T1), 12 horas (T2) e 24 horas (T3) durante refrigeração. Foram avaliados valores de creatinina, uréia e pH do sêmen fresco (SF), dos demais tratamentos e da urina. Os valores obtidos foram 1,53±0,95mg/dL (SF), 0,41±0,16 mg/dL (S0); 16,5±7,3 mg/dL (S1); 30,8±14,2 mg/dL (S2); 52,3±22,2 mg/dL (S3) para creatinina e 37,2±23,1mg/dL (SF); 6,98±7,31mg/dL (S0); 110±76,3mg/dL (S1); 208±167mg/dL (S2); 317±194mg/dL
(S3), respectivamente. O pH não apresentou diferença entre sêmen fresco, os tratamentos e urina. A motilidade apresentou declínio imediato em S3 em comparação com S0 (86,7±3,5% e 94±3,2%, respectivamente), em T1 houve acentuação da perda de motilidade em S3 (25,7±22,7%), em T2 houve diferença entre os tratamentos S2 e S3 em comparação a S0 (36,1±20,4%; 13±13,2% versus 82,78±6,7%). Em T3 os tratamentos com contaminação por urina demonstraram diferença com S0 (61,7±12% em S1; 21,1±16,4% e 2,72±4,6% versus 78,9±4,8%). Houve diferença no vigor a partir de T1 em S2 e S3 (1,89±0,49 e 1,39±0,33) em comparação com S0 (2,67±0,43), se mantendo em T2 e T3 (1,56±0,39 e 1,11±0,22 em T2; 1,28±0,27 e 1±0 em T3,
respectivamente) em comparação com S0 (2,5±0,5 em T2 e 2,28±0,51 em T3). A integridade acrossomal apresentou diferença apenas em T2 entre S3 (92,7±2,3%) e S0 (95,7±1,1). A integridade de membrana plasmática e porcentagem de defeitos menores, maiores e totais não apresentou diferença (p>0,05) entre os tratamentos ao longo do tempo. Os efeitos da urina no sêmen foram agravados em amostras com níveis maiores de creatinina e uréia consequentes dos maiores níveis de contaminação por urina. Os compostos urinários podem ser responsáveis pelos efeitos deletérios no sêmen e o tempo de contato é um fator relevante nesses efeitos. O uso de extensores a base de frutose e glicose podem atenuar os efeitos negativos na integridade de membrana plasmática e acrossomal, assim como nos defeitos espermáticos. É possível afirmar que a dosagem de uréia e creatinina para o
diagnóstico de contaminação de sêmen canino por urina mostrou ser um método sensível e que os efeitos deletérios da contaminação por urina em amostras de sêmen canino são dose-dependente e agravados conforme o tempo em contato com urina.
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