Avaliação cardiológica e laboratorial de felinos com obstrução uretral

Autor: Darlan Henrique Canei

Categoria(s): Dissertação

Palavra(s)-chave: Acidose metabólica, Arritmia, Azotemia, Doença do trato urinário inferior, Hipercalemia, Troponina

A obstrução uretral (OU) é uma condição comum na clínica de felinos. A diminuição da filtração glomerular desencadeia graves distúrbios acidobásicos e eletrolíticos alterando o potencial de membrana atrioventricular, acarretando arritmias e fibrilação. Já foi documentado que várias doenças não cardíacas podem causar dano no miocárdio em humanos, cães e gatos, desta maneira, objetivou-se avaliar a evolução clínica, laboratorial e eletrocardiográfica, além de mensurar o dano miocárdico através da dosagem de troponina I cardíaca (cTnI) de felinos com obstrução uretral. Foram selecionados 33 felinos de diferentes idades e raças com o diagnóstico de OU. Os animais foram acompanhados por sete dias e avaliados conforme parâmetros clínicos, bioquímicos, hemogasométricos, eletrocardiográficos, de pressão arterial e através da dosagem de cTnI em três períodos (momento da admissão, dia 2 e dia 7). A análise da urinálise dos pacientes foi realizada no momento da admissão. A população felina tinha idade (média ± desvio padrão) 1,83 ± 1,58 anos. Dentre os parâmetros clínicos apresentados no momento da admissão, os mais comuns foram estrangúria, polaciúria, vocalização, apatia e estupor, e dentre as variáveis laboratoriais analisadas, creatinina, nitrogênio ureico sanguíneo, glicose, fósforo, excesso de base (BE), HCO3 e potássio sérico diminuíram significativamente (p≤0,05), enquanto o cálcio iônico e o pH sanguíneo aumentaram significativamente (p≤0,05) de acordo com os tempos. A média e desvio padrão da densidade urinária e pH foram de 1,027±0,01, e 7,37±0,81, respectivamente. Houve presença de sangue oculto (100%), proteinúria (96,15%) e glicosúria (19,23%) nos pacientes avaliados, além de cristais de estruvita em 19,23% e fosfato amorfo em 3,84%. No eletrocardiograma, ondas T apiculadas e elevação do segmento ST foram observadas em 21/33 (63,63%) dos felinos afetados, arritmias foram observadas em 9/33 (27,27%) gatos e 2/33 (6,06%) exibiram complexos ventriculares prematuros no momento da admissão, obtendo normalização nos dias sequentes. A dosagem da cTnI verificou que 93,75% (15/16) dos felinos com OU não apresentaram indícios de lesão miocárdica clinicamente relevante e um felino apresentou elevações significativas deste biomarcador nos tempos D1, D2 e D7 (0,866ng/mL, 0,688ng/mL e 0,625ng/mL, respectivamente). Com este estudo verificamos que as alterações cardiovasculares ocorrem em conjunto com modificações metabólicas e são amenizadas após a estabilização do quadro clínico. Apesar de não ter sido observado evidências de lesões cardíacas na maioria dos felinos avaliados, a elevação da cTnI em um felino esteve fortemente correlacionada com o grau de azotemia e hipercalemia por ele desenvolvido. Observamos também que anormalidades eletrolíticas como a acidose metabólica, hipercalemia, hiperglicemia e hiperfosfatemia, agravam o estado clínico e cardiovascular desses pacientes, sendo possível, com este estudo, identificar e monitorar alterações metabólicas que podem induzir a graves comprometimentos cardiovasculares em felinos com OU.

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