O artigo “The ineffectiveness of current environmental and fire policies in the world’s largest wetland”, ganhou o segundo lugar na categoria geral na Sétima Edição do Prêmio MapBiomas. O artigo, publicado no Periódico Environmental Research Letters, mostrou que as políticas ambientais estaduais e federais não têm sido suficientes para preservar o Pantanal das ameaças à sua existência. O estudo foi realizado pelo aluno da University of British Columbia e egresso do Mestrado em Ecologia e Conservação da Biodiversidade da UFMT (PPGECB) Lucas Barros-Rosa e pela aluna do PPGECB Luiza Moura Peluso, com a participação de três Professores do Departamento de Botânica e Ecologia do IB-UFMT: Priscila Lemes, Jerry Magno Penha , Lúcia de Fátima Mateus e da professora aposentada do mesmo departamento, Cátia Nunes da Cunha. O trabalh teve apoio do INAU, do INPP e da Uniderp.
O trabalho usou o MapBiomas para acessar dados de uso e cobertura do solo e de áreas queimadas e os resultados mostraram que o Pantanal perdeu mais de 8 mil km² de água nos últimos 37 anos. A diminuição das chuvas, o aumento da temperatura e a expansão das concessões de uso da água para fins agrícolas e de geração de energia (hidrelétricas) estariam relacionados a este resultado. Além disso, pastagens exóticas têm expandido sua área e podem atingir a mesma área da vegetação nativa com o Decreto 774/2024, que permitiria sua conversão em larga escala. Com o novo decreto do estado de Mato Grosso, 15 mil km² de vegetação nativa agora poderão ser convertidos em gramíneas exóticas, mesmo sem estudos conclusivos sobre os eventuais impactos ambientais dessa medida. O trabalho ainda mostra que drenos artificiais aceleram em 42% a perda de água e alteram o ciclo hidrológico local. Embora ainda não haja legislação específica para o Pantanal, medidas como a Resolução CONSEMA 45/2022 abrem precedentes que colocam a dinâmica hídrica do bioma em risco. O trabalho mostra ainda que os incêndios em MT seguem tendência de aumento desde 2016 e decretos proibindo o fogo no período da seca não reduziram os incêndios aos níveis esperados. Os incêndios foram até 6 vezes maiores durante o período proibitivo e atingiram principalmente áreas antes alagadas. Por fim, as Áreas de Preservação Permanente (Lei Federal 12.651/2012) também apresentaram perda acentuada de água, demonstrando que não são suficientes para a proteção hídrica no Pantanal.
Segundo os autores, medidas urgentes são necessárias, incluindo gestão adaptativa, fortalecimento da legislação, maiores investimentos no enfrentamento às mudanças climáticas e incêndios, e manejo sustentável da terra e do fogo.
A 7ª edição do Prêmio MapBiomas visa “reconhecer e impulsionar projetos que, com o uso dos dados MapBiomas, trazem soluções inovadoras para a conservação, manejo sustentável e combate às mudanças climáticas”. A plataforma MapBiomas existe desde 2015 e congrega uma rede de ONGs, universidades, laboratórios e startups de tecnologia que realizam o mapeamento anual da cobertura e uso da terra e o monitoramento mensal da superfície de água e das cicatrizes de fogo com dados desde 1985. Relatórios também são validados e elaborados para cada evento de desmatamento detectado no Brasil desde janeiro de 2019, por meio do MapBiomas Alerta.
Texto: Silvia A. Falqueto, com base no press release dos autores.
Referência do trabalho:
Barros-Rosa, L., Peluso, L. M., Lemes, P., Johnson, M. S., Dalmagro, H. J., da Cunha, C. N., de Arruda, P. H. Z., Mateus, L., & Penha, J. (2025). The ineffectiveness of current environmental and fire policies in the world’s largest wetland. Environmental Research Letters, 20(3), 034039.