Acadêmico

Pantanal em Risco

Vista da Seca no Rio Paraguai
Vista da Seca no Rio Paraguai
Jorge Adorno/Reuters
Hidrovia Paraguai-Paraná Ameaça a Maior Área Úmida do Planeta

O Pantanal, enfrenta de novo uma grave ameaça, o projeto da Hidrovia Paraguai-Paraná. Além das queimadas constantes, que já comprometem a biodiversidade e o equilíbrio ecológico do bioma, a transformação de uma grande seção do Rio Paraguai em uma hidrovia para o transporte de barcaças pode acelerar o declínio dessa região vital. A proposta, defendida como essencial para o desenvolvimento econômico do Brasil, visa o transporte de mais de 1 bilhão de toneladas de soja.

Contudo, pesquisadores alertam para os riscos desse empreendimento. O professor Pierre Girard, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), um dos coautores do artigo “The end of an entire biome? World’s largest wetland, the Pantanal, is menaced by the Hidrovia project which is uncertain to sustainably support large-scale navigation”, publicado recentemente na revista Science of the Total Environment, relata que o trabalho apresenta 12 argumentos que apontam a inviabilidade do projeto, tanto socioambiental quanto economicamente.

Dentre os argumentos, pode-se salientar que o acúmulo de sedimentos arenosos no leito do Rio Paraguai e as incertezas climáticas decorrentes do aquecimento global tornam a navegação no rio altamente questionável. A viabilização da hidrovia exigiria o aprofundamento do canal e possivelmente o endireitamento das curvas naturais do rio, o que demandaria enormes investimentos e contínua manutenção. Além disso, essas intervenções comprometeriam as inundações naturais que caracterizam o Pantanal, essenciais para a manutenção de sua biodiversidade.

O Pantanal se enche de água durante as cheias, graças ao escoamento lento controlado por estruturas naturais no leito do Rio Paraguai, como camadas de sedimentos e rochas. A dragagem e remoção dessas barreiras aumentariam a capacidade de escoamento do rio, fazendo com que as águas das enchentes escoassem mais rapidamente. Com isso o Pantanal como conhecemos ele hoje, deixaria de ser, pois as obras reduziriam tanto a extensão quanto a duração das inundações, colocando em risco a fauna e flora locais.

Outro ponto crítico é a presença de bancos de areia móveis no rio, que tornariam a navegação instável e exigiriam dragagens contínuas, aumentando a erosão e o desmoronamento das margens. Entre 2019 e 2022, o nível dos rios na região ficou abaixo do nível mínimo para navegação, como aconteceu durante a seca severa entre 1960 e 1974, indicando que o transporte seguro e eficiente de barcaças não é garantido ao longo do ano.

As áreas mais preservadas do Pantanal, com alto valor ecológico e cultural, seriam as mais afetadas pelo projeto. A perda de biodiversidade e a diminuição da beleza cênica impactariam diretamente o turismo e a pesca, atividades fundamentais para as economias locais. Comunidades tradicionais e povos indígenas, que dependem desses recursos, enfrentariam insegurança alimentar e a perda de seus meios de subsistência.

Diante desses riscos, os pesquisadores sugerem que a melhor alternativa ao projeto da hidrovia seria investir em um sistema de transporte que combine ferrovias e rodovias. Isso permitiria o transporte de mercadorias sem depender da disponibilidade de água no Rio Paraguai, preservando o Pantanal e suas comunidades.


Texto por:  Marilaine Sales Pereira, produzido como parte da disciplina de Redação Científica.


Referencia: Wantzen, K. M.; Assine, M.L.; Bortolotto,I.M. et al. (2024). The End of an Entire Biome? World’s Largest Wetland, the Pantanal, Is Menaced by the Hidrovia Project Which Is Uncertain to Sustainably Support Large-Scale Navigation”. Science of The Total Environment 908. 167751. doi:10.1016/j.scitotenv.2023.167751.

Referência da Foto: Jorge Adorno/Reuters. Disponível em: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2024/09/07/rio-paraguai-principal-bacia-do-pantanal-registra-niveis-negativos-e-projecoes-indicam-pior-seca-da-historia.ghtml. Acesso em: 12 set. 2024.

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PORSilvia Altoé Falqueto
Bióloga

DATAOct 3, 2024, 9:10:00 AM

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