Somos professores,
pesquisadores e extensionistas lotados na UFMT Câmpus de Sinop. Atualmente,
além de desenvolvermos projetos de ensino, pesquisa e extensão com a comunidade
externa em nosso município e em municípios vizinhos, também trabalhamos com o
povo Ikpeng no polo Pavuru do Território Indígena Xingu (TIX).
Segue o nosso relato:
No dia 10/03/2023
iniciamos a quarta atividade presencial do Projeto Troca de Saberes (apoiado e
financiado pela FAPEMAT, Edital 018/2021) no TIX. No dia 15/03/2023 finalizamos
as atividades e no dia 16/03/2023 acordamos às 3:30 da manhã para retornarmos
aos nossos lares, em uma viagem de barco de 6,5 horas de duração e mais quatro
horas em veículo automotor.
Ao chegarmos no porto, às
12:00, os motoristas nos informaram que não puderam trazer o combustível -
necessário para o retorno do barco - prática realizada desde o início do
Projeto. Alegaram que essa decisão foi tomada enquanto estávamos trabalhando no
Xingu, em uma reunião realizada no dia 15/03/2023 com servidores e os
motoristas do Câmpus de Sinop.
Ao recebermos essa
informação de forma informal pelos motoristas, e com a viagem em andamento,
ficamos prejudicados, pois assim como nas outras viagens do Projeto, assumimos
um compromisso com o barqueiro, de fornecermos o combustível para o seu
retorno. Também nos comprometemos com a reposição de um botijão de gás com a
escola e que foi utilizado na alimentação de todos que participaram das
atividades. Cabe ressaltar que o gás e todo o combustível utilizado nos carros
oficiais e no barco que nos transportaram foram pagos com recursos do Projeto.
É inacreditável a
irresponsabilidade dos gestores que, de uma hora para outra, tomam uma decisão
como esta sem pensar nas consequências. A prática de levarmos combustível para
aulas de campo, atividades de ensino, pesquisa e extensão em áreas remotas é
necessária e realizada com frequência na Universidade, uma vez que faz parte da
nossa missão enquanto Instituição Pública de Ensino Superior – “Formar e
qualificar profissionais nas diferentes áreas, produzir conhecimentos e
inovações tecnológicas e científicas que contribuam significativamente para o
desenvolvimento regional e nacional”.
Assim, questionamos:
vamos simplesmente abandonar o barqueiro e a escola, sem combustível e o gás?
Este homem, que gentilmente nos trouxe, como contrapartida do projeto, precisa
retornar para a sua casa. Outra preocupação, os alunos da escola poderão ficar
sem merenda devido a falta do gás de cozinha?
Como vamos seguir viagem
sem cumprir o nosso acordo com o povo Ikpeng? São 5 anos de articulação com
essa comunidade, que resultou em um Programa de Extensão e Projetos Associados
em parceria com povo Ikpeng e a Escola Estadual Indígena Central Ikpeng Amure.
Nosso encerramento no dia
15/03/2023 foi uma celebração com a Escola Amure e o povo Ikpeng. Nos sentimos
abraçados pela comunidade, que demonstrou enorme orgulho e alegria em poder
contar com a UFMT em seu território.
Infelizmente, decisões
unilaterais como esta, de não cumprir com compromissos acordados, e sem aviso
em tempo hábil para que pudéssemos contornar a situação, passou um péssimo
sinal para a comunidade indígena. E demonstra descaso com servidores desta
Instituição e demais atores atendidos pelo Programa de Extensão, que cumpre a
função social na Universidade.
Outro agravante: nos
causou profunda indignação sermos informados que não mais poderemos contar com
veículos da instituição para a continuação deste Projeto (mesmo com apoio
financeiro de agências de fomento), sendo que nos dispomos a pagar pelo
combustível sem ônus para a UFMT. Qual o sentido dos veículos da universidade
nesse estado imenso e diverso? Serviremos eternamente a um grupo específico ou
ficaremos escondidos e ausentes do nosso papel social? Se os seguidos cortes no
orçamento trazem como consequência a limitação das atividades que abrangem o
Ensino, a Pesquisa e a Extensão, que são o tripé fundamental da Universidade,
cabe uma reflexão: “Não seria melhor
parar e mostrar para a Sociedade o que está acontecendo, do que cumprir apenas
as funções administrativas da Instituição?”
Este Programa de Extensão
atendeu mais de 100 indígenas no último ano e envolveu toda a comunidade Ikpeng
do polo Pavuru. Contudo, este Programa parece não receber o devido
reconhecimento pelos tomadores de decisões do Câmpus de Sinop.
Não iremos desistir de
continuar levando a Universidade Pública aonde ela deva ir.
Afinal, a dívida
histórica da região de Sinop com os povos indígenas é impagável.
Seguiremos!