Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) desenvolveram um processo biológico capaz de eliminar a toxina Ricina da Mamona, uma oleaginosa de alto valor proteico, que pode ser usado na alimentação de ruminantes como substituto para os grãos destilados de milho e sorgo (DDG). A inovação, criada no Dairy Cattle Research Lab do Câmpus de Sinop, recebeu o deferimento de patente de número BR 10 2015 030887 6.
Além da produção de conhecimento científico e tecnológico, a pesquisa — ao viabilizar o uso de novos produtos na alimentação animal — teve o objetivo de reduzir a dependência do setor no milho e no farelo de soja, principais ingredientes energéticos e proteicos usados nas rações.
"A proposta é usar os farelos e tortas da Mamona, que são produtos resultantes da extração do óleo das sementes, para o uso em dietas de ruminantes em substituição ao farelo de soja e outras fontes convencionais. Atualmente esses produtos têm sido utilizados apenas como fertilizantes orgânicos, mas, transformando-os em uma alternativa de alimentos para animais pode agregar valor à cadeia produtiva e aumentar as opções de ofertas de ingredientes para a alimentação animal, aumentando a competitividade no setor", afirma o coordenador da pesquisa, professor André Soares de Oliveira.
Processos físicos e químicos para eliminar o efeito da Ricina na mamona são estudados há mais de 50 anos. Neste sentido, a iniciativa do laboratório foi a criação de um método biológico e mais barato para a agroindústria.
"Conseguimos definir as melhores cepas microbianas e meios de cultivo para degradar a toxina na mamona. Depois, fizemos ensaios de alimentação, metabolismo e toxicidade em animais alimentados com esse material, comparando com outros tratados fisicamente, quimicamente e sem tratamento, bem como o DDG", explica o professor e completa. "Verificamos que o método biológico que desenvolvemos reduziu completamente os efeitos da ricina, e não afetou o desempenho, digestão, metabolismo e saúde dos animais, indicando que o farelo de mamona biodestoxificado pelo nosso método pode ser usado na alimentação animal".
O farelo e tortas da Mamona são mais indicados para o consumo dos ruminantes, uma vez que a semente inteira possui um alto conteúdo de óleo e que o mesmo já tem um valor alto valor agregado comparado com outras oleaginosas, sendo utilizados como lubrificantes de motor de alto desempenho.
Do ponto de vista da Instituição, a emissão desta carta patente viabiliza o processo de transferência de tecnologia para o setor produtivo.
"Ao produzir tecnologias fruto de ciência básica e aplicada desenvolvida nos laboratórios da instituição, a UFMT cumpre com uma das suas funções sociais e retorna à sociedade parte dos investimentos públicos a ela destinados", concluiu.
Além da mamona, o grupo também realizou pesquisas com a glicerina de biodiesel, o pinhão-manso, girassol, crambe e o próprio DDG.
As pesquisadoras Karin Claudia Alessi e professora Márcia Rodrigues Carvalho de Oliveira também participaram do desenvolvimento desta inovação.
Fonte André Faust (Jornalista da UFMT). Data : 23/09/2021
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