Pi, Rho, Sigma e Tau. Depois de Omicron, uma dessas letras deve ser utilizada para nomear a nova variante da covid-19, descoberta na França e conhecida, até o momento, como “IHU”, em referência ao “Institut Méditerranéen de l'Infection au Centre Hospitalier Universitaire” (IHU), que publicou a descoberta.
Depois dessas, há apenas Upsilon, Phi, Chi, Psi e Ômega, ou seja, o coronavírus já usou mais da metade das possibilidades de nomes dentro do alfabeto grego com suas mutações, em pouco mais de dois anos de pandemia, e nos leva a questionar: “Não é possível uma coisa dessas. Você só pode estar de brincadeira! Como pode ter tanta variação assim?”
Pois, existem algumas explicações que são não-catastróficas, mas ao lidar com um assunto tão grave, é importante manter um certo nível de preocupação saudável, então, nas palavras da médica virologista e professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Renata Slhessarenko: “Alguns fatores fazem com que o coronavírus seja naturalmente mais propenso à mutações, mas não esperávamos que fosse tanto”.
O primeiro fator é que a covid-19 é causada por um vírus de RNA – que é tipo o nosso DNA, só que mais simples. Nesse caso, a principal diferença está na capacidade que essas moléculas não têm de corrigir erros no processo de duplicação. Ou seja, se lá dentro da célula, quando vai ser duplicado, o RNA escreve “AAAUG”, ao invés de “AAUUG”, não tem nenhuma estrutura que possa dizer “opa, peraí, tem que arrumar aqui”, como acontece no nosso DNA.
"Além disso, o coronavírus acabou de cruzar a barreira entre espécies, saindo de um animal para infectar humanos e, por isso, precisa se adaptar”, complementa a pesquisadora.
Esses são fatores normais na natureza e que estão fora do nosso controle.
Entretanto, a pandemia também traz situações que estimulam novas mutações. Uma dessas é a alta disseminação do vírus. De maneira simples: se muitas pessoas pegam o vírus, mais cópias ele vai fazer, mais erros podem acontecer e, portanto, mais chances de novas mutações aparecerem.
“Também há a questão da ‘imunidade não neutralizante’. Indivíduos que já tiveram infecção, mas têm uma resposta imunológica insuficiente. Essa resposta do nosso corpo, que ataca o vírus, mas não é capaz de eliminá-lo completamente, cria uma pressão de seleção, aumentando a taxa de mutação dele”. Bem parecido com o que acontece com as bactérias quando não tomamos os antibióticos corretamente.
Diferente dos erros cometidos pelo RNA, a pandemia é algo que podemos controlar com vacinação e medidas sanitárias, então, apenas com essas atitudes teremos alguma chance de impedir que o vírus complete a tabelinha de letras gregas.