História da marca

Por Maria Santíssima de Lima (in memorian) Coordenadora de Imprensa - ASCOM (2014)

O concreto e o palpável, o poético e o abstrato se juntam na concepção de uma marca que transitana confluência do saber acadêmico e da sabedoria construída a partir da vivência, dos costumes e da criatividade humanas. Assim também nasceu a Universidade Federal de Mato Grosso, da vontade da sociedade de ter acesso ao ensino superior em sua própria região, substituindo a obrigatoriedade de navegar até as universidades litorâneas. O elemento água está presente na história da UFMT desde o tempo que antecede a sua criação até os dias de hoje, como um dos seus principais eixos de investigação científica. E, essencialmente, é esse um elemento fundamental da origem da simbologia que compõe sua logomarca. Como uma provocação para os sentidos, a dureza da pedra é integrada à fluidez das águas no processo de criação.

A poesia concreta e a arte gráfica se juntam na configuração dessa marca. Ao poeta e artista gráfico Wlademir Dias Pino, convidado a trabalhar em uma instituição recém-criada, coube elaborar a imagem que correspondesse aos propósitos da Universidade da Selva. Ingressou na UFMT em 1972 e assumiu a responsabilidade de “criar a identidade visual para a universidade que estava nascendo”. O convite foi feito durante uma feira do livro da qual veio participar, em Cuiabá, e partiu do primeiro reitor, Gabriel Novis Neves, e do professor e poeta matogrossense Benedito Silva Freire.

Wlademir aceitou o desafio e elaborou a marca. Em suas próprias palavras, as formas geométricas do desenho significam que, “caindo uma pedra na água, há, na superfície, uma expansão territorial, que foi a própria edificação da Universidade, e, na medida em que essa pedra atingia, abstratamente, a profundidade cultural, ela também seria um fator físico de medir a profundidade da cultura, uma coisa abstrata, até que encontrasse o ponto do chão final. Além disso, era necessário que fosse uma coisa bem definida entre o preto, o branco e as áreas, e que não fossem também simples alvos, mas tivesse um elemento quadrado, em que dê-se um close no alvo”. [1]

Criatividade e ousadia

Wlademir atuou na UFMT até 1995, período em que lançou sua experiência de poeta visual no processo criativo, cujo resultado foi uma intensa produção gráfica estampada em catálogos, portfólios, jornais, totens e instalações no campus. Participante da I Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1956, e um dos fundadores do poema processo, Wlademir dá asas ao que chama de utopia - a elaboração da maior enciclopédia visual do mundo.

O reconhecimento oficial ao poeta pela contribuição para o desenvolvimento institucional e pela sua atuação em favor das ciências, das letras e da cultura veio em 2013, nas comemorações dos 43 anos da UFMT. A aprovação do título de Doutor Honoris Causa ocorreu no dia 05 de dezembro daquele ano, pelo Conselho Universitário (Consuni), e a outorga, logo a seguir, em 10 de dezembro, durante sessão especial dos três conselhos superiores – Consuni, Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) e Conselho Diretor. [2]

A indicação do título foi feita pelo maestro Fabrício Carvalho, pró-reitor de Cultura, Extensão e Vivência da UFMT e a narrativa sobre o homenageado foi desenvolvida pelas professoras conselheiras Leny Caselli Anzai, Imar Domingos Queiroz e Marta Pignatti. Na apresentação incluíram obras que estão no campus, como o marco da cidade universitária, na entrada da Fernando Correa, e o totem em frente ao Teatro Universitário, e imagens das etapas de criação da logomarca da UFMT. “O artista faz pesquisa, tem conhecimento histórico e cultural e seu processo de criação é tão complexo quanto o de um cientista”, destacou a reitora Maria Lúcia Cavalli Neder, ao referir-se às peças que compõem o estudo para a composição da logo, durante a sessão do Consuni. Ela ressaltou que as relatoras do processo de concessão do título permitiram que “acompanhássemos a trajetória de Wlademir por meio dos componentes do processo criativo de um artista”. E, para demonstrar o quanto a obra de Wlademir faz parte do cotidiano da UFMT, mostrou a capa do processo pela outorga, que como os demais, tem desenho de sua autoria.

“Uma homenagem justa, merecida e inadiável”, segundo parecer da Comissão de análise do Consuni, “pela inegável e notória importância do conjunto de sua obra, que se insere em movimentos culturais de vanguarda em níveis local, nacional e internacional, em trajetória que leva consigo o nome da UFMT”.

Presente à sessão de outorga, no Centro Cultural da UFMT, Wlademir preferiu que seu discurso fosse lido pela filha do amigo poeta Silva Freire, Larissa Silva Freire Spinelli. “Foi com surpresa que recebi a comunicação de que o Conselho Universitário desta universidade houve por bem conferir-me o título de doutor honoris causa. Devo dizer que senti, naquele exato momento (e ainda sinto), certa dificuldade de expressar claramente todo o sentimento com que me tomou instantaneamente a notícia, o que, naturalmente, me levou a pensar no exercício profissional em retrospectiva, com todo o seu poder de fixação. Aproveito, então, esta especial oportunidade para compartilhar um pouco, com vocês, o grande sonho amazônico e o contágio da entusiasmante utopia de aqui, justamente aqui, implantar a nossa Universidade da Selva”, afirmou ao fazer um breve retrospecto da participação na primeira feira do livro em Cuiabá, no início dos anos 70, e da trajetória na UFMT.

“Aqui, tudo estava por ser feito, no de sempre abandonado cerrado. Era preciso criar uma profissão de nível superior para o homem local baseada em nossas necessidades sociais e econômicas e que, ao mesmo tempo, naturalmente, não entrasse em conflito com o poder central. Nos dias de hoje, é visível a presença da primeira geração de estudantes desta instituição assumindo o poder com eficiência. Este resultado confirma seguramente os acertos da Universidade da Selva, portanto, a data de hoje marca a segunda geração de gestores de nossa educação política. Desse modo, é mais do que necessário um rigor todo especial para o engrandecimento da diplomação”, disse ao encerrar o discurso com um viva “para a nossa vitoriosa educação”. [3]

A homenagem foi marcada pelos depoimentos emocionados da professora e ex-aluna do curso de Letras da UFMT, Cristina Campos, que o definiu como um gênio e destacou a importância de a UFMT valorizar a “prata da casa”; e da professora e membro da Academia Matogrossense de Letras, Marília Beatriz Figueiredo Leite, para quem Wlademir deixou uma grande lição para a universidade: a imensa capacidade de produção. “Ele fez mágica”, afirmou Marília Beatriz ao também ressaltar a ousadia de Wlademir por ter conseguido colocar 360 exposições dentro da UFMT, em um ano. “Foi uma exposição por dia”, contou. Recordou ainda quando ele fez o teórico da semiótica Ivan Bystrina, já com uma certa idade, percorrer o campus da UFMT.

A reitora Maria Lúcia falou do privilégio de a universidade ter contado com a visão vanguardista de Wlademir, responsável pela identidade visual da UFMT e com grandes contribuições para as artes do Brasil e do mundo.

A afirmação está corroborada no texto de solicitação da outorga do título de Dr. Honoris Causa: 

“O romancista e crítico literário Assis Brasil, em ‘O livro de ouro da literatura brasileira’, registrou que, no Brasil, Wlademir Dias Pino ‘é o poeta mais independente na área da poesia experimental’. Cristina Campos, estudiosa de sua obra, afirma que ele é ‘um poeta visual à frente de seu tempo, pioneiro de diversos movimentos de vanguarda literária nacional: Intensivismo, Concretismo, Poema Processo, Poema Conceito e Arte Postal, entre outros’. O filólogo Antonio Houaiss o considerou ‘um dos mais perspicazes pesquisadores visuais no Brasil’”. [4]

Mais à frente, as autoras do documento defendem que:

“Não houvesse outro motivo para a concessão da láurea, o logotipo da UFMT já tornaria o artista merecedor de nossas homenagens. Parte integrante do consistente conjunto da obra geral do artista, o logotipo da UFMT, produzido no início dos anos 70, é o símbolo que confere identidade visual a nossa Universidade. Pensado no ideal de ‘Universidade da Selva’, no processo criativo que envolveu sua produção se integram poesia, artes e design gráfico, em um todo erudito e complexo, perpassado pela sensibilidade do artista. Para chegar ao logotipo como o conhecemos hoje, Dias Pino lançou mão de colagens de figuras e registros de ideias que simbolizam o conhecimento científico, o ser humano e a liberdade criativa”. [5]

Sem dúvida, o concreto e o palpável, o poético e o abstrato compõem uma marca que transita na confluência do saber acadêmico e da sabedoria construída a partir da vivência, dos costumes e da criatividade humanas e não perde sua significação com o passar do tempo, devido à carga elementar da ciência e da arte, imprimidas pelo gênio criativo e ousadia do autor. 

[1] – RIBEIRO, Roberto Silva (org.). “Memória Audiovisual da UFMT – 1970-2011”. Cuiabá: Secomm/UFMT, 2012. 

[2] – LIMA, Maria Santíssima de - Portal UFMT - “Consuni aprova outorga de Dr. Honoris Causa a Buey e Dias-Pino” (http://www.ufmt.br/ufmt/site/noticia/visualizar/14200/Cuiaba). 

[3] – ALVES, Maria Selma - Portal UFMT - “Wlademir Dias Pino recebe título de doutor honoris causa da UFMT” (http://www.ufmt.br/ufmt/site/noticia/visualizar/14255/cuiaba).

[4] e [5] – ANZAI, Leny Caselli, QUEIROZ, Imar Domingos e PIGNATTI, Marta Gislene – “Proposta de Concessão de título de Doutor Honoris causa a Wlademir Dias Pino” – 05/12/2013.

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