Reflexões sobre a participação da comunidade preta, parda e indígena na história da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) marcaram a Rota da Ancestralidade na UFMT, realizada na tarde desta terça-feira (3), no Câmpus de Cuiabá. O evento, promovido pela Pró-Reitoria de Cultura, Extensão e Vivência (Procev) em parceria com o Coletivo Rota da Ancestralidade, reuniu a comunidade acadêmica e externa em uma caminhada por sete pontos emblemáticos da Instituição.
O trajeto buscou reconhecer a presença histórica de pessoas pretas, pardas e indígenas na UFMT, além de promover reflexões sobre suas contribuições sociais, culturais e políticas. Entre os pontos visitados estava a Faculdade de Economia, onde foi feita uma homenagem a Toni Bernardo da Silva, estudante intercambista da Guiné-Bissau, assassinado de forma violenta em 2011 e cuja morte gerou mobilizações por melhorias na Assistência Estudantil.
Outros marcos da rota incluíram o Instituto de Geografia, História e Documentação (IGHD), onde foram discutidos os impactos da Ditadura Militar, e o Mural da Mãe Preta, grafite realizado durante o Festival Cor e Calor, que abriu espaço para reflexões sobre as religiões de matriz africana. Também foram celebradas figuras como Lélia Gonzalez, intelectual e militante do movimento negro, no Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), além de passagens pelo Cineclube Coxiponés, Centro Cultural e Restaurante Universitário (RU), onde uma feira encerrou as atividades.
Para a pró-reitora de Cultura, Extensão e Vivência, professora Lisiane Pereira de Jesus, a iniciativa demonstra como a UFMT valoriza a diversidade e a inclusão.
“A Universidade Federal de Mato Grosso tem esse cunho de estar sempre valorizando a inclusão, de mostrar a importância de cada um dentro da instituição. A rota traz um pouco disso, dando visibilidade a quem ajudou a construir a UFMT desde 1970. É um momento de celebrar nossas raízes e reconhecer o protagonismo dessas pessoas”, destacou.
Segundo Cristina Soares, integrante do Coletivo Rota da Ancestralidade, a escolha dos sete pontos da caminhada foi feita de forma colaborativa: “Cada local destaca aspectos da ancestralidade na universidade, olhando para o passado, presente e futuro. A cada edição, novos pontos serão incluídos, sempre pensados coletivamente, porque a UFMT tem muitos lugares de memória para discutir e pensar o antirracismo”, explicou.
Já Cristovão Luiz Gonçalves da Silva, um dos coordenadores do Coletivo, destacou como cada uma das reflexões dialogava com as mudanças que o ensino público atravessou nas últimas décadas. De acordo com ele, na década de 1990 a discussão do movimento negro era se a reparação histórica aos povos escravizados seria em espécie ou em Educação. As ações afirmativas com reserva de vagas para pretos, pardos e indígenas, como as que existem na UFMT, fazem parte dessa reparação.
“Então apesar de ser público o ensino superior, até muito pouco tempo atrás era muito pouco desse ‘público’ dos bairros populares que frequentavam aqui. A porta era literalmente fechada, daí o que você faz? Você taca o pé na porta e entra. Nessa época todo mundo tinha medo da educação enfraquecer, mas o que aconteceu? Todas as instituições que aderiram às reparações ganharam com isso, porque muito dos nossos que estavam na comunidade vieram fazer direito, engenharia, medicina, arquitetura e eles abraçavam aquilo como se fosse a única oportunidade de viver. Você entendeu? Elas sobrevivem no campo intelectual”, concluiu.