“Quando a criança é hospitalizada ela é retirada do seu ambiente cotidiano e familiar e passa a conviver em um espaço desconhecido, onde diariamente são realizados procedimentos de saúde dolorosos e desconfortáveis para cumprir o tratamento prescrito”. A constatação do enfermeiro e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Ronaldo Antonio da Silva é um dos pontos que direciona a pesquisa que busca humanizar a assistência pediátrica.
Como parte da pesquisa realizada pelo doutorando, ele promove o questionário eletrônico para buscar mais informações sobre a experiência de profissionais de enfermagem pelo Brasil. A aplicação do formulário atende à pesquisa "Contenção da criança hospitalizada para a realização de procedimentos de saúde: panorama nacional" com enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem, que atuam no cuidado direto ao paciente pediátrico. Ronaldo Antonio da Silva conta que na maioria das vezes profissionais da enfermagem realizam procedimentos em crianças.
“Assim, um dos desafios e dilemas éticos e morais vivenciados pela enfermagem diz respeito a utilização da contenção, definida como qualquer método que restrinja o movimento ou o acesso normal de uma pessoa ao seu corpo, para concluir algum procedimento de saúde, tais como: administração de medicamentos, sondagens e exames de sangue”, pontua o doutorando sobre a importância da pesquisa. O estudo abrange práticas aplicadas tanto a crianças, como também a recém- nascidos e vai ter a aplicação do formulário nas cinco macrorregiões do Brasil.
A pesquisa considera o impacto emocional no momento de realizar exames e outros procedimentos. “A ação de conter uma criança pode desencadear sofrimento emocional para as crianças, os familiares e os profissionais de saúde envolvidos. Além disso, a literatura científica tem destacado as incertezas quanto os riscos e as consequências de curto, médio e longo prazo na vida e saúde das crianças que são contidas”, explica Ronaldo Antonio da Silva.
Pesquisa é pioneira no Brasil
O estudo é orientado pela professora Maria Aparecida Munhoz Gaíva e surgiu a partir da identificação de necessidades na área. “Este projeto surgiu pela lacuna identificada em uma pesquisa anterior em parceria com pesquisadoras da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e colaboração da doutora Lucy Bray, professora da área de saúde da criança da Edge University no Reino Unido. Naquela ocasião, o nosso objetivo era mapear na literatura mundial, a partir de uma revisão de escopo, os estudos sobre a contenção das crianças submetidas a procedimentos de saúde. O artigo foi publicado no Journal of Child Health Care e evidenciou que não existe estudo sobre esse assunto no Brasil, o que indicou uma lacuna sobre o tema no país”, relata o doutorando.
O pesquisador ressalta que o estudo tem caráter inédito no Brasil. “Assim, diante da problemática identificada, este projeto de pesquisa pioneiro no Brasil propõe investigar a contenção realizada pela equipe de enfermagem aos recém-nascido, neonatos e crianças hospitalizadas. Os participantes (enfermeiros, técnicos e/ou auxiliares de enfermagem) deverão responder o questionário disponível no link e contribuir com a sua experiência”, ressalta Ronaldo Antonio da Silva. A estratégia para aumentar o número de respondentes, segundo o pesquisador, é formar uma rede de pesquisadores com o apoio de entidades de classe, programas de residência e eventos científicos.
A expectativa do estudo é voltada para estruturar práticas de assistência a recém-nascidos e crianças. “Com os resultados, temos a expectativa de colaborar com a humanização e a construção de melhores práticas na assistência neonatal e pediátrica no que diz respeito ao uso adequado da contenção para realizar procedimentos de saúde durante a hospitalização. Os dados poderão embasar a proposição de estratégias assistenciais, gerenciais e de formação, com a perspectiva de respeitar os direitos garantidos as crianças e ainda, as suas necessidades emocionais”, finaliza.