Da mesma forma que o clima, a cultura e a história podem influenciar na formação das cidades, a geodiversidade — variedade de elementos e processos relacionados à formação de rochas, minerais e solos — também cumpre seu papel neste sentido. No caso de Cuiabá, cidade tricentenária que foi fundada a partir da exploração de metais preciosos, o ouro e a pedra-canga são exemplos dessa diversidade que estão presentes em diversas construções históricas, como apontado por uma pesquisa recente da Instituição.
"O ouro era abundante em Cuiabá e foi o ponto de partida para seu surgimento e desenvolvimento. Hoje, este metal precioso ainda é encontrado na baixada cuiabana e encontra-se preservado nas paredes das igrejas da Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, por exemplo", explica a professor Ana Claudia Costa, da Faculdade de Geologia (Fageo) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Além de serem usados como decoração, outras formações características da região ajudam a compor a "infraestrutura" da cidade, como é o caso da pedra-canga, em Cuiabá, um minério avermelhado, resistente, pois contém ferro em sua composição, de baixo custo e que foi largamente utilizado em construções como nos degraus e paredes da igreja da Nossa Senhora do Bom Despacho, por exemplo.
"O inventário da geodiversidade de um local e a seleção de sítios representativos da sua história geológica são o primeiro passo para a determinação do patrimônio geológico, que por sua vez formará a base para definir e estabelecer o patrimônio geológico, a geoconservação e o geoturismo", afirma a pesquisadora, que aponta que em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro já existem roteiros focados neste aspecto.
Além destes, outros materiais geológicos estão sendo descritos em pesquisas paralelas, como o blocos de quartzo branco, que ocorre em Cuiabá e Poconé, e o calcário do distrito da Guia, este último notoriamente presente na fachada do Hospital Estadual Santa Casa.
Além da professora Ana Claudia Costa, a pesquisa foi realizada em parceria com os pesquisadores Carlos Humberto da Silva e Renato Migliorini, da UFMT, e Marcos Nascimento, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e publicada no Journal of the Geological Survey of Brazil.