A apresentação da Orquestra Sinfônica da Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT) no último domingo (03), no Teatro Universitário,
foi definida pelo público com uma palavra: bravo. A plateia foi cativada por
"Bravíssimo", nome do espetáculo que trouxe peças de grandes
compositores como Edvard Grieg, Pietro Mascagni e Wolfgang Amadeus Mozart e que
também homenageou os estudantes da instituição.
Na ocasião, a reitora da UFMT, professora Marluce Souza e
Silva, ressaltou que uma semente de muita esperança está sendo plantada.
"O broto vai surgir, estamos vivendo dias difíceis há duas semanas.
Certamente vocês acompanharam pela mídia. Tivemos, inclusive, o assassinato de
uma mulher, dois assédios e importunações. A universidade é o retrato da
sociedade e essas ocorrências não são exclusivas da UFMT", pontuou.
"É preciso que a gente trabalhe para eliminar os
preconceitos, a discriminação, a hostilidade e a violência dentro desses
espaços. Estamos aceitando a colaboração de todos para que a gente vença essas
dificuldades. Recebemos os alunos, os estudantes de graduação e de
pós-graduação, na semana passada, na sala dos órgãos colegiados, e fizemos com
eles um compromisso de que a segurança será alcançada", continuou.
"Trabalharemos para que este espaço seja um ambiente de
aprendizado com qualidade e segurança. Muitas medidas estão sendo tomadas e
muitas delas já foram alcançadas. Hoje, a universidade é um espaço mais
iluminado, mais guardado e menos hostil. E é isso que desejamos preservar,
conservar e expandir. Um espaço onde todos nós possamos estar o tempo todo, com
segurança, alegria, prazer e muito conhecimento. Aos estudantes, muito obrigado
por tudo, pelas parcerias que já fizemos. Antes de ser reitora, estive por 15
anos nos órgãos colegiados e acredito que não estive em nenhuma reunião sequer
sem defender os interesses dos estudantes. Desejo a vocês uma aprendizagem de
qualidade, uma relação social das mais respeitáveis, muita dignidade e muito
sucesso na profissão que escolheram", concluiu.
Bravíssimo
Segundo o diretor artístico da Orquestra, Oliver Yatsugafu,
o concerto foi bonito. "Fico muito contente por a orquestra apresentar ao
público uma interpretação de alto nível. Nós nos preparamos muito bem, tivemos
tempo e os ensaios foram bastante trabalhosos", contou.
"Exijo bastante dos músicos, há momentos de tensão,
sempre buscando fazer o melhor em cada ensaio, avaliando as possibilidades.
Temos algumas limitações, inclusive de pessoal, mas cada um se dedicou e, no
momento do concerto, houve uma entrega linda de se ver", prosseguiu.
"É muito satisfatório e ficamos na expectativa de como
o público vai reagir, especialmente na peça de Mozart, na qual bolamos algumas
brincadeiras. Teve um pouco de comédia e a gente sabe que é difícil prever a
reação, se vão gostar, se vão rir, se estarão conosco", explicou.
O resultado, como esperado, foi dos melhores.
"Começamos a perceber que o público reagiu com uma sonoridade que a gente
provocava. Várias crianças presentes entenderam nossas brincadeiras e
interagiram com as nossas piadas musicais", observou.
Repertório
Oliver Yatsugafu contou que, para a montagem do repertório,
procurou conciliar vários fatores, como a composição da própria orquestra.
"Temos servidores técnicos administrativos, que são músicos concursados e
profissionais, e também os estudantes do bacharelado em violino, que estão
atuando conosco e se saindo muito bem, além de outros alunos da licenciatura em
música que se destacam e tocam muito bem seus instrumentos", disse.
A partir dessa mescla, o diretor artístico busca obras
significativas da música de concerto. "Foi onde achei Sweet Holberg, uma
música belíssima, expressiva e conhecida no meio da música erudita, da música
de concerto, e que é possível de ser muito bem tocada pela nossa
orquestra", contou.
"Isso é desafiador para nós, porque temos um repertório
muito vasto em relação à música de concerto, mas quando pensamos na nossa
orquestra, pensamos no que seria legal também para a experiência. Neste
sentido, Sweet Holberg, que a orquestra nunca tocou na íntegra, foi uma boa
escolha", disse, explicando que, quando não é possível ter obras
originalmente escritas para orquestra, são feitas adaptações, e para esta
apresentação foram realizadas para trompete e trombone.
Neste caso, a obra original foi composta para piano e o
compositor fez a orquestração para cordas. "Achei um arranjo que incluía
instrumentos de sopro e foi onde pude extrair dali a parte de trombone e
trompete", prosseguiu.
O repertório também contou com fragmentos de "Cavalaria
Rusticana", de Pietro Mascagni, uma obra feita para orquestra.
"Pesquisando na internet, achei um arranjo para cordas e, mais uma vez, a
parte de trompete e trombone eu extraí do original. Na verdade, é o original,
mas com uma adaptação. Mesmo sendo uma música lenta, musicalmente é um trabalho
bastante desafiador para qualquer orquestra. Acho que fizemos tudo muito bem. O
objetivo sempre é levar para o nosso público a melhor performance possível e
prezamos por isso, e acho que temos conseguido entregar bons concertos",
continuou.
"Sempre penso também em mostrar para o nosso público a
versatilidade da orquestra. Essa brincadeira musical do Mozart vem nesse
contexto, que é uma música de concerto, evidentemente, mas com outra pegada.
Como o nosso público pôde ver, e como a gente, durante o processo de
preparação, também foi explorando, em que momento que a gente podia fazer
alguma brincadeira, para além do que está escrito na obra. As ideias foram
vindo dos colegas músicos e dos próprios estudantes, de fazer ali uma paródia,
uma encenação", apontou.
Oliver Yatsugafu disse que, desde que assumiu a Orquestra,
foram realizados cerca de oito concertos, e cada um trouxe uma faceta diferente
do grupo. "O anterior foi a inauguração do concerto para piano, então teve
um destaque para o instrumento, e a gente acompanhando o pianista. Tivemos um programa
chamado Belíssimo com o núcleo de choro da Polícia Militar, mostrando também
essa parte da música brasileira que a gente consegue fazer muito bem",
finalizou.